A Polícia Federal concluiu um relatório de 884 páginas, ao qual o DCM teve acesso, que indica o caminho para a Procuradoria-Geral da República (PGR) unificar as investigações contra Jair Bolsonaro (PL) em uma única denúncia. O documento reúne apurações sobre a trama golpista, a fraude na carteira de vacinação contra a Covid-19 e o desvio de joias sauditas, consolidando o indiciamento do ex-presidente por crimes como organização criminosa e tentativa de abolição do Estado democrático de direito.
O relatório destaca a atuação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, como figura-chave nas investigações. Cid firmou um acordo de delação premiada, e mensagens recuperadas de seu celular pela PF trouxeram novos elementos que reforçam a conexão entre as diferentes frentes de apuração. Segundo a PF, a organização criminosa tinha cinco eixos principais de atuação, incluindo ataques ao sistema eleitoral e ao STF, além de fraudes no uso da estrutura estatal.
A PGR considera que os crimes apontados pela PF são interligados, o que possibilita a apresentação de uma denúncia robusta e coesa. Entre os casos reunidos, está a falsificação de dados no cartão de vacinação de Bolsonaro, usada para inserir informações falsas nos sistemas do Ministério da Saúde. O desvio de joias sauditas recebidas em eventos oficiais também está listado como um dos crimes investigados.
O ministro Alexandre de Moraes destacou, em decisão recente, a organização do grupo criminoso para desacreditar o processo eleitoral e executar o golpe de Estado. “Há interligação entre os núcleos, com investigados atuando de forma simultânea e coordenada”, escreveu Moraes ao levantar o sigilo do relatório da PF.
O documento ainda revela que a organização bolsonarista atuou “mediante divisão de tarefas, com o fim de obtenção de vantagem consistente em tentar manter o então presidente da República Jair Bolsonaro no poder”.
Trecho do documento da PF que afirma que há indícios de que os investigados atuaram de forma coordenada na suposta tentativa de golpe que visava manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder após sua derrota nas últimas eleições presidenciais – Foto: Reprodução
A PGR ainda analisa lacunas nas investigações. No caso das joias sauditas, o procurador-geral Paulo Gonet apontou a falta de documentos integrais mencionados no relatório da PF. Sobre a fraude na carteira de vacinação, Gonet solicitou informações adicionais sobre o uso do comprovante falsificado por Bolsonaro para ingressar nos Estados Unidos em dezembro de 2022.
As autoridades americanas confirmaram entradas e saídas de Bolsonaro entre 2021 e 2023, mas não localizaram registros de comprovantes de vacinação. Esse é considerado o caso menos prejudicial ao ex-presidente, segundo aliados. Já a trama golpista e o desvio de joias têm potencial mais significativo de impacto.