Wladimir confessou que foi cooptado por Ramalho durante uma conversa na Academia da Polícia Federal, em Brasília. Ele afirmou que o plano incluía sua atuação na segurança de Jair Bolsonaro, caso o ex-presidente optasse por não entregar a faixa presidencial. Além disso, o agente da PF revelou ter frequentado o acampamento golpista em frente ao Quartel-General do Exército, durante a transição de governo, o que levou ao seu afastamento das funções na segurança de Lula.
Conexões com militares e o alto escalão bolsonarista
De acordo com as investigações da PF, Wladimir Matos esteve diretamente ligado a um grupo de quatro militares presos na mesma operação, entre eles o general da reserva Mário Fernandes, apontado como figura central no planejamento. Documentos e áudios apreendidos indicam que Fernandes e Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, mantinham discussões detalhadas sobre o golpe, incluindo reuniões na casa do general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022.
Um áudio recuperado pela PF revela que Mauro Cid participou de reuniões estratégicas para debater ações golpistas. Apesar de ter negado envolvimento no plano durante interrogatórios, os investigadores apontam contradições em suas declarações. Cid, que firmou um acordo de delação, pode perder os benefícios conquistados, como o direito de responder ao processo em liberdade, caso a Justiça considere que ele descumpriu os termos do acordo.
Ramificações do plano golpista
O depoimento de Wladimir Matos detalha um esquema que envolvia não apenas militares, mas também agentes de inteligência e membros do segundo escalão da segurança presidencial. A PF investiga o alcance da conspiração e busca determinar o nível de envolvimento de outras figuras do governo Bolsonaro e das Forças Armadas.
Entre os planos detalhados, o grupo discutiu o assassinato de Alexandre de Moraes por meio de explosivos e estratégias para inviabilizar a posse de Lula e Alckmin. Documentos apreendidos com os militares incluem roteiros de ação, apelidados de “Planilha do Golpe”, e menções ao uso da força para "pacificar" o país após a ruptura democrática.
Avanço das investigações e próximas etapas
O inquérito da PF está em fase final, e o ministro Alexandre de Moraes, do STF, intimou Mauro Cid para prestar novo depoimento nesta quinta-feira (21), a fim de esclarecer as inconsistências em suas declarações anteriores. Moraes também autorizou o acesso da defesa de Braga Netto aos documentos da investigação.
A defesa de Mauro Cid não se manifestou sobre o caso, e os representantes legais de Alexandre Ramalho e dos demais presos na operação não foram localizados. O Exército e a Abin também não comentaram o envolvimento de seus membros nas investigações.
O impacto na segurança institucional
As revelações adicionam um novo capítulo à crise envolvendo atos golpistas e a tentativa de subverter o processo democrático no Brasil. O envolvimento de agentes de Estado, incluindo membros da Abin e militares de alta patente, reforça a necessidade de maior vigilância e responsabilização dentro das instituições públicas.
Com a possibilidade de novos nomes surgirem ao longo das investigações, o caso expõe a gravidade das ameaças enfrentadas pela democracia brasileira e a urgência de medidas para proteger as instituições republicanas.