A reportagem da revista M começa com uma foto de página dupla mostrando a rua dos Protestantes, no bairro da Santa Efigênia. Na imagem, feita em abril de 2024, não é possível distinguir imediatamente parte das pessoas entre montes de lixo, caixotes e restos de papel. O correspondente do Le Monde no Brasil, Bruno Meyerfeld, acompanhado do fotógrafo Luca Meola, tenta ilustrar o “fluxo”, termo usado para definir a massa cada vez maior de usuários de drogas que transitam pela região.
“Eles vagam silenciosamente, com um andar incerto”, descreve o repórter, tentando resumir o que apresenta como “um dos maiores locais a céu aberto de consumo de drogas no mundo”. O jornalista explica que esses “fantasmas urbanos”, que “estremecem a orgulhosa e rica São Paulo” gravitam pelo bairro há três décadas: “trinta anos entre terror, vergonha e fascinação, repressão furiosa, resiliência e resignação … sem resultado diante de um flagelo, o crack, que de Paris a Vancouver, passando por Amsterdã e Nova York, atinge os grandes centros do planeta”.
O correspondente relata a evolução do bairro, que vê partir os barões de café na década de 1940 e começa a atrair uma população mais precária. Nos anos 1980, o crack surge na região e, em 2016, “a Cracolândia vive seu apogeu, reunindo quase quatro mil usuários de drogas em apenas uma rua, a Alameda Dino Bueno”, detalha o texto.
Cada prefeito tem um método diferente
O texto explica as iniciativas políticas para tentar conter a situação, entre a administração de Fernando Haddad, que propôs uma infraestrutura mínima para os usuários, em 2014, passando pela administração de João Doria que, em 2017, “desmantela o programa [de seu antecessor] e lança uma megaoperação contra a Cracolândia”. A revista M conta como, nesse momento, o fluxo de usuários se dispersou e migrou para outras ruas, até se concentrar, no final de 2023, na rua dos Protestantes.
A reportagem termina detalhando os projetos do atual prefeito, o conservador Ricardo Nunes, e do governador, o ex-capitão Tárcisio Freitas, que contam envia mais 2.500 policiais para o centro de São Paulo. Além disso, há um programa de expropriação de 230 imóveis para construir treze prédios. “Uma enorme operação de especulação imobiliária, que ignora o patrimônio e, principalmente o destino dos usuários de drogas”, sentencia. “Perseguidos e explorados, os migrantes do craque se dispersam pela cidade e mini-Cracolândias começam a surgir em outros bairros”, alerta a reportagem da revista M do jornal francês Le Monde.