Ao comentar a chacina de sete pessoas, entre elas uma menina de 12 anos, por uma dupla de bolsonaristas com registro de CAC (Caçadores, Atiradores e Colecionadores) em Sinop, no Mato Grosso, o secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, afirmou em entrevista ao Fórum Onze e Meia nesta quinta-feira (23) que o presidente Lula deve receber nos próximos dias a proposta para um novo marco legal sobre armamentos, especialmente sobre os CACs e clubes de tiros.
A proposta foi desenvolvida a partir do Decreto 11.366, editado ainda no dia 1º de Janeiro de 2023, que suspendeu novos registros de armamentos e concessões para clubes de tiros e instituiu um grupo de trabalho para apresentar uma nova regulamentação à Lei 10.826 sobre a posse de armas, que foi destruída pelo decreto 9.785 de Jair Bolsonaro em 2019, dando início à cultura armamentista no país.
"No próprio decreto foi instaurado um grupo de trabalho que nos próximos dias vai apresentar uma proposta de novo marco para toda a legislação que envolve a questão das armas e desses clubes no Brasil. Não é possível que tenhamos uma sociedade armada, uma cultura de banalização da vida. Isso é inaceitável", afirmou Capelli.Segundo ele, o trabalho para a nova regulamentação tem sido feita com muito cuidado e ouvindo todas as partes, inclusive a confederação de tiro esportivo. "Os atletas precisam ser preservados", emendou, dizendo que trabalho pode levar algum tempo e usa como referência as melhores práticas internacionais.
Cappelli diz que primeiro é preciso "botar luz" no que foi feito por Bolsonaro e "a partir disso construir uma nova referência legal", lembrando que em quatro anos o número de CACs saltou de 117 mil para 816 mil, um número quase quatro vezes maior que o efetivo do Exército.
Chacina em Sinop
O secretário afirmou ainda que o tuite divulgado nesta quarta-feira (22), em que diz que "a chacina em Sinop temos dois assassinos e um 'mentor intelectual' que passou 4 anos armando de forma criminosa a população e fomentando a cultura do ódio e da banalização da vida" foi fruto da indignação de um pai.
"Eu fiquei absolutamente indignado com aquela cena inaceitável. Aquilo é barbárie. Uma pessoa vai no carro e pega uma escopeta e, simplesmente, mata 7 pessoas. Uma criança de 12 anos. Como assim? Eu tenho uma filha de 12 anos, um filho de 8 anos. Eu fiquei naquele momento pensando nos meus filhos. É uma coisa bárbara, inaceitável, produto de uma cultura construída no Brasil nos últimos 4 anos, onde se promoveu a lei do mais forte, do vale-tudo. Isso é contra qualquer norma mínima de convivência em uma sociedade moderna. É voltar para a barbárie. É uma cena que me deixou muito abalado".
Segundo ele, a chacina provocada pelos bolsonaristas é fruto de uma "política organizada no Brasil de armar parcela da população".
"Essas coisas não acontecem por acidente. Isso foi uma política organizada no Brasil de armar parcela da população, do 'liberou geral' nas armas e com absurdos por todo lado. CACs, clubes de tiros funcionando 24 horas. Como assim? Isso é subterfúgio para justificar que pessoas, alegando que estão indo para esses clubes, possam andar armadas pelas ruas 24 horas também, alegando que estão em trânsito para o clube. Essa é a política da barbárie".