O ministro da Justiça, Flávio Dino, confirmou que houve participação do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da presidência da República em atos que visavam destruir a democracia brasileira.
“Não há dúvida que agentes públicos participaram dos acampamentos golpistas. Eu não posso antecipar conteúdos das investigações da Polícia Federal (PF). Mas os terroristas que atacaram os três poderes no dia 8 de janeiro foram combatidos pela polícia do Senado, mas não no Palácio do Planalto. Esta é uma linha de investigação”, declarou Dino, em entrevista ao Fórum Onze e Meia, desta terça-feira (17).
O ministro abordou a participação de militares nos atos terroristas e, inclusive na elaboração da minuta golpista que pretendia alterar o resultado da eleição, encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres.
“Se as Forças Armadas tivessem embarcado no golpismo, nós não estaríamos aqui. Nem eu, nem vocês. Fórum estaria fechada e eu estaria, na melhor das hipóteses, no exílio. Nós temos um fato. Houve uma tentação satânica para que as Forças Armadas rompessem a legalidade democrática. E elas não romperam”, avaliou Dino.
“Esses demônios continuam por aí. Porém, absolutamente todos que participaram daquele documento serão investigados. Quem são essas pessoas? Não sei. É claro que eu tenho minha opinião, mas eu não posso manifestar. Agora, o que posso afirmar é que a investigação é vital”, destacou.
Dino também fez uma observação importante: “Ao que tudo indica, o documento foi redigido nos estertores do bolsonarismo, pois se refere à data 12 de dezembro. Então, certamente aquele documento foi escrito em dezembro. Faço questão de frisar: um documento juridicamente bem escrito, o que aumenta sua gravidade, porque mostra que havia ali uma junta de desvairados e de criminosos”.
O
ministro da Justiça lembrou, ainda, do atentado com bomba no dia 24 de
dezembro. “Tem duas curiosidades históricas. A primeira: essa gente que
se diz tão cristã queria explodir o aeroporto de Brasília no dia do
Natal. Que gente é essa? Por outro lado, no mesmo sentido, essa gente
que se diz tão cristã não poupou no seu ódio nem a imagem de Jesus
Cristo na parede do Supremo: arrancaram, pisotearam e jogaram no chão, o
que em si já é um crime".
“Não houve negociação” sobre o que Dino determinou nos atos terroristas
Questionado se houve tentativa do Exército de impedir as providências tomadas pelo governo no sentido de coibir os atos terroristas de 8 de janeiro, Dino esclareceu.
“Não houve negociação no conteúdo que eu determinei a
partir das 15h30 daquele domingo. Fixei diretrizes no sentido de que
todos os envolvidos deveriam se presos. Era um Golpe de Estado. Houve
apenas uma reunião para mudança de horário para desmontar o acampamento
em frente ao QG do Exército”.
“Não haverá anistia política ou jurídica”, afirma Dino
Em relação à possível prisão de Jair Bolsonaro, o ministro ressaltou que há uma investigação em curso e disse que há duas novidades nas apurações.
“Primeiro, temos um ex-ministro preso (Anderson Torres), por determinação do STF; segundo, há um ex-presidente (Bolsonaro) formalmente investigado. Não haverá acomodação com criminosos, não vou prevaricar. Mas é preciso serenidade, pois um justiçamento seria um erro político e jurídico”, acrescentou.
“Acho que vai aparecer mais gente. Bolsonaro divulgou um vídeo de incitação antes dos atos terroristas. Agora, não posso afirmar quem será preso. Não me cabe. Mas posso garantir que as investigações não terão fronteiras e não haverá anistia política ou jurídica”, afirmou Dino.