O servidor da Polícia Federal lotado na Presidência da República que numa entrevista exclusiva à Fórum, em 13 de dezembro, acusou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de estar por trás dos ataques terroristas realizados em Brasília na noite anterior (12), quando a sede da PF e uma delegacia da Polícia Civil sofreram tentativas de invasão e dezenas de veículos, entre ônibus e carros, foram queimados pelas ruas e avenidas da capital federal, voltou a relacionar o órgão de Inteligência e o governo Bolsonaro com a mais recente ação de terror levada a cabo por bolsonaristas radicalizados: a tentativa de explodir um caminhão-tanque, com uma bomba-relógio, dentro do Aeroporto Internacional Juscelino Kubistchek, ocorrida na véspera de Natal.
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) prendeu nas primeiras horas após o atentado frustrado o empresário paraense George Washington de Oliveira Sousa, acusado de ser o mentor do ataque. Ele foi detido no apartamento alugado onde estava morando, no bairro Sudeste, área nobre de Brasília, com um arsenal avaliado em mais de R$ 160 mil. O terrorista disse em seu depoimento à PCDF que “uma mulher e um homem”, que ele não conhece e não sabe as identidades, teriam “aparecido no acampamento do QG” orientando-o a colocar os explosivos numa subestação de energia que fica em Taguatinga, no entorno de Brasília, já que uma explosão lá provocaria um blecaute na capital da República.
Diante deste e de outros detalhes contidos na oitiva do terrorista bolsonarista preso, o servidor da PF que vem informando a Fórum sobre o dia a dia no Palácio do Planalto, desde a derrota de Jair Bolsonaro (PL) para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de outubro, reiterou as acusações contra o GSI e ao governo Bolsonaro, apontando fragilidades da versão apresentada por Sousa à Polícia Civil brasiliense e indicando como supostamente agentes dos serviços de Inteligência estariam agindo para fomentar e conseguir pôr em prática atos de terror operacionalizados por bolsonaristas que frequentam ou vivem no acampamento golpista instalado na área militar do QG do Exército.
“Essa história contada pelo terrorista no depoimento não bate com nada. É descabida essa conversa de que ele foi interpelado por uma mulher e um outro suposto desconhecido que teria condições de colocar o explosivo numa subestação de uma região administrativa de Brasília, que é Taguatinga. Quem sabia que essa subestação alimenta Brasília? Quem conhece essa subestação se não for de Brasília, alguém que conhece a cidade? Por que alguém ali no acampamento, gente de todo canto, saberia que explodindo justamente a subestação lá de Taguatinga o estrago iria ser grande, apagando Brasília? Como um desconhecido, chegando ali no meio do acampamento terrorista, porque aquilo é uma vergonha, é um acampamento de terroristas sob a guarda do Exército Brasileiro e dos serviços de inteligência, até porque é mais do que óbvio que as várias agências de inteligência operam ali naquele local, como esse sujeito chegaria ali, desconhecido, propondo pôr bombas e explodir linhas de transmissão, aeroporto, enfim, e ninguém ia saber de nada? Os agentes já teriam reportado à chefia, que reportariam às autoridades e o cara estaria preso. Quem é essa mulher? Todo mundo ali tem nome, tem contato, mas ninguém sabe quem é essa mulher, que foi lá e indicou onde explodir? O enredo vai fechar. Isso está no depoimento dado à Polícia Civil do Distrito Federal. Nós estamos falando de serviços de inteligência que hoje não estão a serviço do Estado brasileiro, mas sim de um governo. É por isso que eu tenho avisado desde o começo, ainda antes dos ataques do dia 12, com ônibus queimando, carros, a população toda apavorada, que isso está partindo dessa gente. Da primeira vez deixei alertado que outros casos ocorreriam, e que isso se intensificaria com a aproximação da posse (de Lula). O que eu posso assegurar, e isso é novo, é que esse comando mais centralizado, como vimos, agora parte de pequenas células desse pessoal lá do QG. Terrorismo é um ato, um crime, de natureza federal. É surreal que o Exército Brasileiro e as Forças Armadas, que são constituídas como organizações que deveriam defender o Brasil, permitam que isso se espalhe por Brasília sem fazer nada. As perguntas que ficam são: quem financiou a comprar de todas essas armas e quem montou os explosivos? Os explosivos tinham controle remoto. Isso é coisa de leigo? Você acredita que um amador, olhando vídeo na internet, monta um explosivo daquele tipo com um detonador remoto? Esses caras receberam ajuda de profissionais e esses profissionais estão operando infiltrados dentro do QG. Desde o primeiro minuto eu venho alertando: esses agentes que impõem essa dissonância cognitiva, que espalham essa desinformação, que fomentam ações diretas, como explodir subestações de energia ou um aeroporto, é gente da inteligência, é do GSI. A intenção é implodir, sim, o Regime Democrático de Direito no Brasil... Quando ocorreram aqueles atos, lá do dia 12, o GSI soltou aquela nota atacando a imprensa e você (jornalista Henrique Rodrigues), mas ninguém se propôs a realizar nenhuma investigação de nenhum tipo, a coisa está na mesma e agora piorou, com essa escalada de extremismo que ninguém sabe onde vai parar. Houve uma tentativa de atentado terrorista no aeroporto de Brasília. Onde está o ministro da Justiça atual? Cadê o presidente da República? Cadê o chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, a quem está vinculada e subordinada a Abin (Agência Brasileira de Inteligência)? Sumiram? Sumiram nada, estão operando juntos. No dia da posse houve um sumiço, todo mundo desapareceu aqui, é impressionante. Ninguém quer saber de estar lá (na cerimônia), mas por quê? Vai acontecer algo? Assim que virar o ano, todas essas pessoas têm que ser chamadas imediatamente a responder por tudo isso”, disse o policial federal que trabalha na sede da chefia do Estado.
Mais cedo, o futuro ministro da Justiça, Flávio Dino, numa entrevista à GloboNews, disse que certamente há gente do governo federal conivente ou participando desses atos de terror, acrescentando que dará início a uma investigação assim que Lula estiver empossado. A declaração vai ao encontro do que o servidor da PF ouvido pela Fórum têm dito nas últimas semanas.
A exemplo das outras reportagens em que o servidor da PF forneceu informações à Fórum, os áudios e demais dados fornecidos que podem revelar sua identidade permanecerão resguardados, por razões óbvias.