Segundo Wang, o mundo vive um momento de “turbulência e transformação”, com riscos crescentes à segurança internacional e ao desenvolvimento sustentável. Neste contexto, afirmou o diplomata, os BRICS têm um papel central na promoção de uma ordem internacional mais justa e inclusiva, fundada nos princípios da igualdade soberana e do multilateralismo.
A reunião no Rio representa o primeiro encontro de chanceleres após a ampliação oficial do grupo, que passou de cinco para onze membros — Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Considerando países membros e parceiros diretamente envolvidos na agenda de cooperação do Sul Global, o número saltou em 300% em relação à composição inicial.
Durante os debates, Wang Yi reforçou a necessidade de uma reforma nas instituições internacionais, com vistas a uma governança global mais representativa e equilibrada. Ao lado de outros chanceleres, o diplomata defendeu que os BRICS se coloquem como força estabilizadora num cenário em que o unilateralismo, os conflitos armados e o desequilíbrio econômico ameaçam a estabilidade global.
O chanceler chinês apresentou quatro propostas centrais para o fortalecimento do bloco:
O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, coordenador da reunião, também destacou o papel singular do grupo: “O BRICS como grupo reconhece os interesses estratégicos e os legítimos interesses econômicos e de segurança de cada membro, tanto em suas respectivas regiões quanto em todo o mundo”, declarou, ao abrir os trabalhos. Segundo ele, o caminho do grupo deve ser o da diplomacia, da cooperação e da busca por uma “distribuição justa de poder nos assuntos globais”.
Crises regionais e globais
Além das reformas institucionais, a reunião abordou a atuação conjunta do BRICS diante de crises regionais e globais. Wang Yi e os demais ministros participaram de painéis que trataram do papel do Sul Global no reforço do multilateralismo e da construção de soluções pacíficas para os conflitos internacionais.
Vieira chamou a atenção para o número recorde de 183 conflitos registrados no mundo em 2023, o maior das últimas décadas, e reiterou que o BRICS deve manter o compromisso com um sistema humanitário “neutro, despolitizado e genuinamente universal”. Também alertou para a situação humanitária no Haiti, no Sudão, nos Grandes Lagos africanos, na Ucrânia e nos territórios palestinos ocupados.
Sobre o conflito na Ucrânia, o ministro brasileiro mencionou a iniciativa conjunta com a China para formar o “Grupo de Amigos da Paz”, criado em setembro de 2023, como exemplo de atuação diplomática do Sul Global. Quanto à Palestina, reforçou a posição brasileira pela solução de dois Estados, com base nas fronteiras de 1967 e Jerusalém Oriental como capital do Estado palestino.
A expectativa é que, nesta terça-feira (29), os ministros aprovem uma declaração conjunta, que servirá de base para o documento final da presidência brasileira do BRICS, a ser apresentado na cúpula de chefes de Estado marcada ainda para este ano.