Por Moisés Mendes
Hugo Motta cita Ulysses Guimarães, diz que vai buscar convergências entre governo e oposição e dá a entender que parece um cara sensato. Essa é a imagem que o novo presidente da Câmara quer passar.
Mas, ao mesmo tempo, na primeira chance que teve para agradar o bolsonarismo, disse que os manés do 8 de janeiro sofreram penas exageradas do Supremo.
E que a invasão de Brasília não fez parte de uma tentativa de golpe. Porque um golpe só acontece com um líder, e o 8 de janeiro não teve liderança identificada.
Por que mostrar essas duas faces, que já têm muitas variações? Porque Hugo Motta irá batendo no cravo e na ferradura, até descobrir para que lado deve caminhar.
Motta se apresenta como um mediador de conflitos entre governo, Câmara e Supremo,
porque assim vai tateando até descobrir qual será a calibragem adequada das suas falas e de seus atos.
Se sentir que o centrão está forte e que o fascismo se sente à vontade, e se esse fortalecimento da direita for combinado com a fragilização de Lula, Motta adere às pautas da sua turma.
Ulysses Guimarães. Foto: Divulgação
E assim será esse ano. Uma entrevista dizendo que é um conciliador, citando Ulysses Guimarães sempre que possível, e outra jogando para a torcida do bolsonarismo, da grande mídia e da velha direita.
Não esperem muita coerência de Motta, até porque ele poderá fazer na presidência da Câmara o que Arthur Lira, por ser raposa mais preparada, não quis levar adiante.
Motta poderá radicalizar e ser, como figura manobrável, o avalista dos projetos fascismo que ataquem Lula e Alexandre de Moraes. Como as pautas da anistia e do semipresidencialismo.
Motta será, até onde for possível, o Rolando Lero da Câmara, com essa fala de aprendiz de coroné que espera a hora certa para fazer o que lhe encomendaram.
E assim será por muito tempo. Na segunda-feira ele se apresenta como um Ulysses apaziguador e na terça como uma figura híbrida que mistura Eduardo Cunha e Arthur Lira. Hoje, é com certeza o preposto de Arthur Lira.