No final de 2024, o advogado criminalista e procurador de justiça aposentado Roberto Tardelli nos brindou com um texto onde coloca com sua competência e experiência jurídica como o conjunto das forças policiais se deteriorou no Brasil. Ele diz: "A polícia hoje deixou de ser uma fonte de respeito e passou a ser um órgão de terror. Nós temos medo da polícia não pelo que possamos estar fazendo de errado, mas pelo simples fato de sermos abordados por ela, sem saber as consequências dessa abordagem".
Em sua publicação, Tardelli cita o fato estarrecedor que ocorreu no governo Bolsonaro, qual seja de ter tido na formação profissional-policial disciplinas sobre direitos humanos, de modo especial na corporação da Polícia Rodoviária Federal. "Nós, como sociedade civil, precisamos tomar para nós a responsabilidade de acompanhar a formação dessas forças. Não sabemos quem elabora os currículos, quem ministra as aulas e qual controle é exercido sobre isso. Sem mudança na formação, não haverá avanço" - adverte o procurador.
Ele arremata com conhecimento profundo: "O controle sobre as forças de segurança foi perdido há muito tempo. O Judiciário precisa ser parte dessa conversa. Sem alterações profundas, continuaremos nesse ciclo de violência".
Comungando com o procurador, acrescento, ainda, como profissional do Direito, que o ex-presidente Bolsonaro foi capaz de desnudar um "adoecimento psicológico" de todas as nossas polícias. Incentivados, os policiais pensaram uma coisa e deu outra completamente diferente. Alimentaram uma ditadura e prevaleceu a democracia.
Verdadeiramente, o ex-presidente relegou ao esquecimento a segurança pública nacional como direito social. Ao invés de adotar providências para que as polícias fossem mais aperfeiçoadas, Bolsonaro optou por incentivar uma Segurança Pública compreendida apenas como interesse de categorias. Justamente para estimular o policial a apoiá-lo na tentativa de golpe de estado.
Em recente pesquisa Datafolha, identificou-se uma situação trágica na relação polícia x sociedade. De que 51% dos brasileiros acima de 16 anos disseram ter mais medo do que confiança na polícia. O percentual é uma repetição do que ocorria no governo Bolsonaro. Em 2019, no meio do governo do ex-presidente, também 51% afirmaram ter mais medo do que confiança na polícia.
O pesquisador Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirmou que o resultado do levantamento deve servir de alerta para os agentes de segurança mudarem sua forma de atuação. “A população não se sente segura em relação à forma de trabalho da polícia, mas não é de hoje”, disse ele. “Há aqui um reconhecimento de que a forma com que elas têm atuado historicamente tem incomodado, porque não é uma forma que vê a segurança e o direito social para todos”.
Para concluir, lembremos que Bolsonaro tentou entregar um "cheque em branco" para policiais quando defendeu a excludente de ilicitude para as forças de segurança. Ou seja, uma espécie de "autorização" para matar e não proteger a sociedade. A intenção de Bolsonaro era colocar nas mãos das polícias brasileiras um "salvo-conduto" para que policiais (civis e militares) pudessem cometer crimes de toda ordem sem serem criminalizados. Até em ações duvidosas!
Hoje, há um convencimento quase que majoritário de que Bolsonaro foi o grande culpado para o desgaste das polícias brasileiras. Crise que foi suficiente para que a imagem do Brasil derretesse internamente entre nós e no exterior em termos de Segurança Pública. Induvidosamente, Bolsonaro foi, realmente, uma tragédia para a nossa Segurança Pública. E favoreceu grupos criminosos, inclusive dentro das próprias polícias.