A bem-sucedida cirurgia de emergência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva trouxe alívio a aliados e seguidores nesta terça-feira (10). No entanto, um cenário preocupante emergiu nas redes sociais alinhadas ao bolsonarismo, onde a internação do presidente foi usada como combustível para ataques e desinformação.
Frases carregadas de hostilidade, piadas mórbidas e distorções sobre o estado de saúde de Lula ganharam força, reforçando o fanatismo político e a polarização extrema no Brasil.
Ela explica que essa manifestação agressiva está profundamente ligada ao que Sigmund Freud descreveu em "O Futuro de uma Ilusão": a busca por pertencimento em meio ao colapso de estruturas simbólicas e à insegurança gerada pelas rápidas transformações do capitalismo contemporâneo.
O ódio como "nova religião"
No bolsonarismo, Gerolomich identifica uma espécie de "neofundamentalismo político", em que a ideologia assume o papel de uma nova religião. Essa "fé" se fundamenta em figuras messiânicas, como Jair Bolsonaro, e narrativas que prometem salvação e proteção contra um "outro" construído como inimigo.
Lula, nesse contexto, é elevado a um arquétipo do mal absoluto, simbolizando tudo o que o bolsonarismo rejeita: mudanças sociais, moralidade progressista e a pluralidade política.
Essa dinâmica cria uma
ilusão coletiva que organiza os medos e angústias dos indivíduos,
projetando em Lula o papel de bode expiatório.
"O desejo de morte contra Lula reflete uma tentativa desesperada de recuperar controle e segurança em um ambiente de caos e desilusão", explica Gerolomich.
A ferida narcísica da derrota
Freud destaca, em seus estudos, o papel das figuras de autoridade na psique coletiva. Para os apoiadores de Bolsonaro, a derrota nas urnas e a volta de Lula ao poder representam uma ferida narcísica profunda, abalando a ilusão de que o bolsonarismo seria a única força legítima para governar o país.
Essa frustração, segundo Gerolomich, provoca um deslocamento dos impulsos destrutivos, que encontram em Lula um alvo simbólico para canalizar suas angústias reprimidas.
"A ideologia bolsonarista reforça a exclusão e a violência como meios de proteger as estruturas tradicionais. No entanto, ao invés de coesão, essas dinâmicas apenas amplificam o desamparo e a hostilidade coletiva", afirma a psicanalista.
A psique do ódio coletivo
O desejo de morte dirigido a Lula não é apenas uma manifestação política, mas um sintoma psíquico e social. Ele emerge como resposta ao colapso das ilusões sociais, incapazes de conter os impulsos destrutivos reprimidos.
Para Gerolomich, a violência simbólica e real expressada nas redes bolsonaristas contra o presidente reflete uma busca por pertencimento em um grupo que promete proteção e coesão, mas que, na prática, opera pela exclusão e pela destruição.
Um alerta para a democracia
A análise psicanalítica de Gerolomich revela como movimentos autoritários e polarizados utilizam o ódio como um afeto aglutinador, criando inimigos para justificar suas frustrações. No entanto, ela alerta que essa dinâmica, ao transformar adversários políticos em símbolos de ameaça existencial, enfraquece o tecido democrático.
"Quando o ódio é o afeto central de uma ideologia, não há espaço para diálogo, apenas para confronto e destruição", conclui Gerolomich.
O desafio, portanto, é romper esse ciclo de desamparo e violência, resgatando a capacidade de lidar com o dissenso sem recorrer ao ódio como resposta primária.
A análise expõe a complexidade do ódio bolsonarista contra Lula e ressalta a importância de compreender as raízes psíquicas e sociais desses impulsos para proteger a democracia e reconstruir as bases do diálogo público.