A Polícia Federal incluiu a viagem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) aos Estados Unidos, em dezembro de 2022, como parte de uma estratégia ligada à tentativa de golpe de Estado no Brasil. Segundo o Estadão, a informação consta no relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) na quinta-feira (21), que indiciou 37 pessoas por crimes como abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Segundo o documento, Bolsonaro deixou o Brasil no dia 28 de dezembro, três dias antes do fim do mandato, com a intenção de se manter distante de qualquer responsabilização direta por atos golpistas que poderiam ocorrer, como ocorreu mais gravemente no dia 8 de janeiro, quando seus seguidores invadiram e depredaram os prédios dos Três Poderes.
Embora o ex-presidente tenha negado envolvimento em qualquer tentativa de ruptura democrática, a PF relaciona sua ausência do Brasil ao plano de desestabilização.
A PF identificou transferências financeiras do Brasil para os Estados Unidos, supostamente realizadas para evitar bloqueios judiciais em eventuais investigações.
O relatório afirma ainda que Bolsonaro atuou de forma abrangente na organização criminosa investigada, sendo descrito como líder do grupo. De acordo com a investigação, o objetivo central da organização era mantê-lo no poder, mesmo após sua derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022.
O ex-presidente Jair Bolsonaro e os generais Walter Braga Netto e Augusto Heleno, três dos indiciados pela Polícia Federal por golpe. Foto: Reprodução
A corporação destacou que Bolsonaro se isolou politicamente após o resultado das eleições, limitando-se a interações privadas e evitando discursos públicos que reconhecessem sua derrota.
Após a divulgação do indiciamento, Bolsonaro usou as redes sociais para criticar a condução das investigações. Em publicação no X, antigo Twitter, ele acusou o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF, de promover um inquérito baseado em “criatividade”. Segundo o indiciado, Moraes conduz a investigação de forma arbitrária, “ajustando depoimentos e fazendo pesca probatória”.
O ex-presidente também mencionou que aguardará orientações de sua defesa para responder formalmente às acusações, que ainda dependem de análise pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Com o envio do relatório ao STF, o processo avança para a avaliação da PGR, que decidirá sobre a apresentação de denúncia contra Bolsonaro e os demais indiciados. Caso a denúncia seja aceita, o ex-presidente pode se tornar réu por crimes relacionados à tentativa de golpe.