A delação de Mauro Cid havia sido colocada em risco devido a contradições e supostas omissões em depoimentos anteriores. Contudo, no depoimento mais recente, ele forneceu detalhes sobre uma reunião realizada no apartamento de Braga Netto, na qual teria sido discutida uma tentativa de golpe de Estado.
Delação ameaçada por omissões
Mauro Cid enfrentava a possibilidade de perder os benefícios do acordo de colaboração. A Polícia Federal identificou inconsistências nos depoimentos anteriores do militar, sobretudo em relação à sua participação em um plano de golpe que incluía o monitoramento de adversários políticos e supostos planos de assassinato de autoridades como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o próprio Moraes.
Apesar dessas falhas, os investigadores decidiram não solicitar a rescisão do acordo. Moraes optou por ouvir Cid novamente e, após o depoimento, considerou que os novos elementos apresentados foram suficientes para garantir a validade do acordo. O ministro ainda requisitou um parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) antes de tomar uma decisão definitiva.
Detalhes da reunião golpista
De acordo com o depoimento de Cid, a reunião no apartamento de Braga Netto contou com discussões sobre a possibilidade de impedir a posse de Lula, derrotado nas eleições por Bolsonaro em 2022. Braga Netto, que também foi candidato a vice-presidente na chapa do ex-presidente, é uma das 37 pessoas indiciadas pela PF no inquérito que investiga as articulações golpistas e os ataques de 8 de janeiro de 2023.
A defesa de Braga Netto afirmou que aguardará o recebimento oficial dos elementos informativos antes de adotar uma posição formal. Em nota, os advogados repudiaram a divulgação de informações antes de que as partes envolvidas tenham acesso completo ao inquérito.
Histórico de prisões e acusações contra Cid
Mauro Cid foi preso duas vezes em 2023. A primeira ocorreu em maio, no âmbito de uma investigação sobre fraudes em cartões de vacinação que teriam beneficiado Bolsonaro e aliados. Ele foi solto em setembro, após firmar o acordo de delação.
A segunda prisão ocorreu em março de 2024, após a divulgação de áudios em que Cid criticava Moraes e acusava a PF de conduzir o caso com uma "narrativa pronta". Nessa ocasião, o ministro do STF determinou sua prisão por obstrução de Justiça.
Durante as investigações, a PF identificou um plano envolvendo militares e outras figuras para monitorar os passos de Moraes e articular ações golpistas. Entre as táticas, estavam o uso de chips registrados em nomes falsos e a adoção de codinomes para coordenar deslocamentos estratégicos para Brasília.
As revelações de Cid aprofundam as suspeitas contra Braga Netto e outros militares de alta patente. O caso destaca a complexidade das investigações e os desafios enfrentados pelas instituições democráticas para responsabilizar os envolvidos em articulações contra o Estado Democrático de Direito.
Com a manutenção da delação, Mauro Cid continuará colaborando com as investigações, que seguem avançando no STF sob o comando de Alexandre de Moraes. As informações fornecidas poderão ser determinantes para o fortalecimento de futuras denúncias contra Bolsonaro e seus aliados, incluindo figuras de peso no Exército e no núcleo político do ex-presidente.