Por conta de críticas contundentes do presidente Lula aos ataques promovidos pelo governo israelense em Gaza, Tel Aviv decidiu atacar o chefe de Estado brasileiro, declarando-o persona non grata.
Em resposta, Carvalho afirmou que a fala do presidente Lula expressa um desejo de obter a paz na região. Ele também lembrou que o presidente Lula em repetidas vezes condenou os ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro de 2023, quando cerca de 1.200 pessoas foram mortas em Israel, segundo Tel Aviv.
Ele também criticou aqueles que buscam explorar as críticas de Lula
para atacar o governo federal e citou o exemplo de judeus progressistas
ao redor do mundo que têm se levantado contra o governo de extrema
direita de Israel.
Leia abaixo a íntegra da nota de Marco Aurélio de Carvalho:
Lula é a única liderança mundial verdadeiramente empenhada em parar Netanyahu.Nem Biden, nem os europeus estão conseguindo evitar que Netanyahu invada Rafah e ocupe a Faixa de Gaza.
É realmente importante que a fala do Presidente Lula seja analisada na exata dimensão em que foi proferida. Lula vai continuar buscando a paz entre as nações. E vai ter a oportunidade de explicar suas posições e deixar claro mais uma vez que condena com veemência os ataques terroristas do Hamas, e que também condena a manutenção de todos os reféns que ainda não foram libertados e a reação criminosamente desproporcional de Netanyahu.
Tenho certeza absoluta que Lula pautou um debate importante, e que abriu, com isso, uma oportunidade muito rica para um aprendizado coletivo.De toda sorte, a exploração política exagerada, desonesta e oportunista do episódio não me parece ser o melhor caminho.
O que espanta é que os textos a respeito do episódio não mostram a indignação que todos os humanistas deveriam sentir com a matança que está acontecendo em Gaza.
Sim. Matança! De mulheres e crianças … de civis inocentes ! Quem seria capaz de negar isso?
Judeus progressistas do mundo todo têm se levantado corajosamente contra o que está ocorrendo na região. E é perfeitamente possível conciliar as indignações. Sem seletividade!
Podemos condenar com a mesma força o terrorismo odioso do Hamas, e a reação completamente criminosa e desproporcional do governo de extrema direita de Netanyahu. Qual a dificuldade?
Precisamos enfrentar o tema com toda a complexidade que ele tem, mas sem perder a coerência e o senso crítico. Mas para que não sejamos mal interpretados, reitero:
1. Toda a solidariedade do mundo aos judeus, ao povo de Israel e também ao povo palestino;
2. Que a história não se repita jamais. Precisamos, para isso, combater com toda a força e empenho o antissemitismo que nos cerca e assombra. E que ele não seja justificativa para explicar ou relativizar o horror e a barbárie desta guerra;
3. Que possamos olhar para além dos muros, e enxergar que não existe um direito natural à reações desproporcionais… que não existe nada que justifique a morte banal e desnecessária de milhares de civis inocentes (e não importa o credo, a raça ou a cor);
4. Que possamos olhar para além dos muros e enxergar o sofrimento de milhões de pessoas que foram jogadas involuntariamente nesta guerra sangrenta que só produz morte e miséria;
5. Que os reféns sejam libertados imediatamente, e que a ONU seja empoderada adequadamente para mediar a paz na região e no mundo;
6. Que os responsáveis sejam devidamente penalizados;
7. E que, como diz a canção, não sejamos “indiferentes”.