Diante de declarações do então chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, sobre o possível uso da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para se infiltrar nas campanhas eleitorais de opositores, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou ter qualquer participação do órgão para “acompanhar o que os dois lados” estavam fazendo.
Em entrevista ao Jornal da Record na noite de sexta-feira (9/2), Bolsonaro negou qualquer responsabilidade por essa suposta coleta de dados: “Heleno falou que ia se inteirar dos dois lados. É o trabalho da inteligência dele, que eu não tinha paticipação nenhuma. As inteligências, eu raramente usava, das Forças Armadas, da própria Abin, da PF. Vi que ele ia estender o assunto e eu tive que cortar. Não é o caso de ficar dando detalhes aqui. Vai fazer operação, faça”, disse Bolsonaro ao repórter, quando questionado sobre a fala do general em reunião realizada em julho de 2022.
A gravação que mostra a reunião entre Bolsonaro e ministros foi liberada teve o sigilo derrubado pelo ministrto Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após diversos vazamentos de investigações sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito (PET 12.100).
Na ocasião, Heleno afirmou: “Conversei ontem o Victor (Carneiro), novo diretor da Abin. Nós vamos montar um esquema para acompanhar o que os dois lados estão fazendo. O problema todo disso é se vazar qualquer coisa aí. Muita gente se conhece nesse meio. E, se houver qualquer acusação e infiltração desses elementos da Abin em qualquer dos lados…”.
No mesmo momento, o então presidente Jair Bolsonaro interrompe Heleno e pede que o assunto seja tratado em “conversa particular”.
Para a Polícia Federal, na fala do general, fica sugerido o uso de agentes infiltrados da Abin nas campanhas eleitorais.
Eleição não tem VAR
Ainda na mesma reunião, general Heleno defende que o governo deve fazer algo antes das eleições, que se for preciso “dar soco na mesa”, deve ser antes da votação.
“Não vai ter segunda chamada na eleição, não vai ter revisão do VAR. O que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa, é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa, é antes das eleições. Depois das eleições, será muito difícil que tenhamos alguma nova perspectiva”.
VAR é a sigla para Video Assistant Referee, um árbitro assistente de vídeo, usado em jogos esportivos para verificar faltas.
Reunião com “dinâmica golpista”
O vídeo foi encontrado pela Polícia Federal em um computador apreendido em endereço do ex-chefe da ajudância de ordem de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid.
Uma investigação da PF apura um esquema de espionagem ilegal dentro da Abin, com uso de um software israelense que monitora geolocalização, usado contra adversários políticos de Bolsonaro.