BRASÍLIA (Reuters) - A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) monitorou ilegalmente 30 mil pessoas que seriam contrárias ao governo durante a gestão do então presidente Jair Bolsonaro, disse o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, em entrevista à GloboNews nesta quinta-feira.
Segundo Rodrigues, as investigações realizadas pela PF sobre o caso descobriram que dados monitorados estavam armazenados em Israel em uma nuvem -- forma remota de armazenamento de dados. "A investigação tem apurado que de fato houve o monitoramento de muitas pessoas -- estima-se em 30 mil pessoas -- clandestinamente, ou seja, de maneira ilegal", afirmou.
"Fizemos já prisões, buscas e apreensões e há análise de todo esse material sendo feito, inclusive, recuperamos dados de nuvem, e aqui veja a gravidade, esses dados de monitoramento dos cidadãos brasileiros estavam sendo armazenados em nuvens em Israel, porque a empresa responsável por essa ferramenta ela é israelense", reforçou.
O diretor-geral disse que a situação é inaceitável e que se espera, com a investigação, apontar os responsáveis pelos monitoramentos para responderem perante a Justiça.
O diretor-geral da PF considerou que o uso indevido dessa ferramenta de monitoramento de pessoas é de "extrema gravidade". "Estamos aqui falando de fragilidade do sistema de comunicação do país a partir do uso ilegal de uma ferramenta que, em nenhuma hipótese, poderia estar sendo usado por uma agência que não tem atribuição legal", afirmou.
"Monitoramento de comunicações ou de telefone só pode ser feito em investigação criminal e autorizada pela autoridade judiciária, o que não foi o caso", acrescentou.
Procurada pela Reuters, a Abin não respondeu de imediato a pedido de comentário.