Nesta quarta-feira (27), milhares de argentinos, acompanhados de sindicatos e outros grupos sociais, realizaram uma manifestação em Buenos Aires, exigindo a revogação do “decretaço” implementado pelo governo de extrema-direita, de Javier Milei, na semana passada. O anarcocapitalista também afirmou que poderia realizar uma consulta popular caso o Congresso reprove as mudanças.
A marcha reuniu federações trabalhistas de destaque, incluindo a Confederação Geral do Trabalho (CGT) e a Confederação dos Trabalhadores Argentinos (CTA), junto a organizações sociais, políticas e de direitos humanos, concentrando-se em frente à sede do Poder Judiciário e da Suprema Corte de Justiça da Argentina.
O protesto acontece duas semanas após o governo impor um protocolo que restringe o direito de manifestação, proibindo o fechamento de vias públicas e ameaçando os participantes com ações judiciais e a suspensão de benefícios sociais.
Nas redes sociais, já é possível ver diversos vídeos da polícia retaliando, com violência, os protestos em Buenos Aires. O canal Todo Noticias registrou o momento em que agentes imobilizam um manifestante contra o asfalto na região central da cidade.
Em entrevista à TV argentina na última terça-feira (26), Milei reiterou a posição, afirmando que “quem faz, paga” e disponibilizou uma linha direta para reclamações sobre a marcha, que já teria recebido 20 mil ligações, segundo o porta-voz da Presidência, Manuel Adorni.
Ele também alegou que a lentidão na tramitação de projetos no Congresso pode estar relacionada ao fato de “alguns” legisladores buscarem “propina”, embora sem apresentar provas concretas. As afirmações visam destacar a oposição à corrupção no ambiente legislativo.
Durante o protesto, o dirigente do sindicato dos bancários, Sergio Palazzo, denunciou a polícia por marcar os manifestantes com tinta para identificação em possíveis processos judiciais e ações para retirada de benefícios sociais. Ele apelou para que Milei respeite a democracia em vez de agir autoritariamente.
“Quero denunciar que os manifestantes estão sendo marcados com tinta. Nos subúrbios eles também fizeram isso enquanto ninguém está fazendo nada,” afirmou Palazzo.
Diversos setores se uniram para tentar impedir a implementação do Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), que, em uma única medida, impõe mais de 300 reformas, revogando leis, eliminando regulamentações estatais, permitindo privatizações e iniciando a flexibilização do mercado de trabalho e do sistema de saúde. A medida, prevista para entrar em vigor esta semana, está sendo contestada nos tribunais e nas ruas.
Enquanto a manifestação acontecia, o Gabinete da Presidência argentina encaminhou o “decretaço” para apreciação do Congresso. Milei, embora tenha vencido as eleições com 56% dos votos, é minoria no Congresso, o que pode dificultar a implementação de suas propostas.
Durante a entrevista, Milei também declarou que, se o Parlamento vetar o DNU, ele convocará um plebiscito. Além disso, mais de uma dúzia de queixas já foram apresentadas nos tribunais contra o megadecreto. Segundo o jornal La Nacion, advogados de empresas multinacionais estariam por trás do texto que presidente argentino pretende impor.
A marcha desta quarta-feira foi a primeira convocada pela CGT, principal sindicato do país, sob o governo de Milei. Os sindicatos planejam reunir-se novamente na quinta-feira (28) para definir um plano de luta, considerando até mesmo a possibilidade de uma greve geral de 24 horas.