O senador Sergio Moro (UB-PR) se vê cada vez mais isolado diante das sinalizações de que teria votado a favor da indicação de Flávio Dino como o novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Ao tentar responder às críticas, mostrou-se totalmente perdido.
O ex-juiz, que durante a sabatina de Dino na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado o abraçou calorosamente, e que foi flagrado recebendo orientações para não divulgar seu voto supostamente favorável, enfrenta ataques tanto dos bolsonaristas, que o rotulam como "traidor", quanto dos lavajatistas, incluindo o ex-procurador Deltan Dallagnol, que estaria "desesperado" com sua omissão.
Nesta quinta-feira (14), Moro foi às redes sociais para romper o silêncio. Em uma postagem na plataforma X (antigo Twitter), o senador defendeu seu direito de manter seu voto em sigilo e atribuiu os ataques que vem sofrendo ao governo Lula e ao PL do Paraná, mesmo que as principais críticas partam de seus até então aliados.
"Não me surpreende o intenso ataque daqueles que almejam assumir a posição que conquistei de maneira legítima nas urnas, com o respaldo do povo paranaense. Aos meus eleitores e apoiadores, esclareço: não divulgar o voto na indicação de autoridades é uma prerrogativa do parlamentar. O vigoroso embate que tenho enfrentado do atual governo Lula, de parte do próprio PL paranaense, aliado às ameaças do PCC, me levam a agir, neste momento, com prudência e no pleno exercício de uma prerrogativa que possuo, tudo isso visando preservar minha independência".
Flagrado sendo orientado a não divulgar o voto a favor da indicação de Flávio Dino ao STF, Sergio Moro ainda teve que lidar com o desespero de Deltan Dallagnol, ex-procurador com quem fez dobradinha nos tempos da Lava Jato.
Dino foi submetido à votação dos senadores, e sua indicação para ser o novo ministro da Corte foi aprovada, primeiro na CCJ, com 17 votos favoráveis e 10 contrários, e depois pelo plenário da casa legislativa, com 47 votos favoráveis e 31 contrários.
Uma nova foto de Wilton Junior, do jornal O Estado de S.Paulo, mostra que em troca de mensagens com seu suplente, o advogado Luis Felipe Cunha, Moro é alertado que Dallagnol está "desesperado" com o aval que colocaria, horas mais tarde, Dino no STF.
"Deltan desesperado. Me ligou, mandou mensagem e etc. Só para seu conhecimento", escreveu o advogado, que recebeu R$ 1 milhão do União Brasil, após Moro romper com o Podemos e se filiar ao União Brasil. A troca de partido foi negociada por Cunha.
Em seguida, Moro responde sinalizando estar ciente do "desespero" do ex-procurador e que não sabe exatamente o que fazer.
"Mandou mensagem aqui. Falo algo aqui? O que acha?", indaga Moro ao advogado.
Desolado, Cunha responde ao senador dizendo que "pela estratégia relatada aparentemente não há o que ser dito".
"Eu disse ao Deltan que [não aparece em razão do dedo em cima] sabe o que faz e que estarei [...] seu lado sempre, por lealdade e por saber que você é um cara correto", responde o suplente.
Na rede social X, em sequência de publicações, Dallagnol não escondeu seu desespero ao implorar pelo voto aberto na indicação de Dino e ignorou Moro, cumprimentando apenas o senador Eduardo Girão (Novo-CE), um dos bolsonaristas mais radicais que se posicionou contra a indicação.
"O voto deveria ser aberto. Somos eleitores e temos o direito de saber como vota quem nos representa - ou não nos representa. A aprovação de Dino é uma vergonha. Orgulho do senador @EduGiraoOficial que representou o Novo com #DinoNão".
Em seguida, o ex-procurador disse que está "profundamente triste e desapontado com o Senado por falhar de novo em conter o autoritarismo e a politização do STF, que só vão piorar com Flávio Dino".
"Deus tenha piedade do Brasil e daqueles que o STF considera seus inimigos, como os réus do 8/01 e a Lava Jato. Vamos precisar", emendou.
Dallagnol ainda perdeu o sono com o aval a Dino para o STF e voltou à rede à 1h58 desta quinta-feira (14) para mais um lamento e aproveitou para dar uma indireta a Sergio Moro, dizendo que "se você permite que o sistema te controle com dinheiro ou ameaças, você virou sistema".
"Senadores que votaram no Dino por emendas parlamentares ou por medo de vingança violaram o dever que têm com seus eleitores. Se você permite que o sistema te controle com dinheiro ou ameaças, você virou sistema. Mesmo tendo sido cassado eu não me arrependo de nunca ter aceito emendas e cargos do governo e de nunca ter baixado a cabeça para os donos do poder. Eles podem tirar de mim a paz, mas não a coragem; o cargo, mas não a luta; o salário, mas não o valor", publicou o ex-procurador, em indireta a Moro.
Em outro registro flagrado pelo Estadão, Moro aparece trocando mensagens no WhatsApp com uma pessoa cujo nome na agenda é "Mestrão". O diálogo dá a entender que o senador teria votado favoravelmente à indicação de Dino ao STF.
"Sergio, o coro está comendo aqui nas redes, mas fica frio que jaja passa, só não pode ter vídeo de você falando que votou a favor, se não isso vai ficar a vida inteira rodando. Estou de plantão aqui, qualquer coisa só acionar", diz Mestrão.
Moro, então, responde: "Blz. Vou manter meu voto secreto, eh um instrumento de proteção contra retaliação".
Pouco antes do início da sabatina, Sergio Moro, que já sonhou em ser ministro do STF e que é um crítico contumaz de Dino e do atual governo, fez questão de ir até o ministro da Justiça e não só cumprimentá-lo, como dar um abraço caloroso, com direito a risadas e trocas de afagos.