O ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
disse que o plano, além de ser uma plataforma para investimentos
sustentáveis no Brasil, é uma proposta do Sul Global por uma nova
globalização. "Uma globalização que seja ambientalmente sustentável e
socialmente inclusiva com reformulação dos fluxos financeiros globais,
passando pela afirmação do Sul como centro da economia verde.”
Ao iniciar o discurso, Haddad disse que o plano deve superar a “pesada
herança colonial de exclusão social, destruição ambiental e subordinação
internacional” do Brasil e lembrou do desmatamento do período colonial,
ocorrido junto com a exploração dos indígenas e africanos escravizados
no país.
“Os efeitos ambientais e humanos da extração de todos esses produtos [açúcar, ouro e café], que eram majoritariamente consumidos no Norte Global e tiveram um papel fundamental na história do desenvolvimento desses países, foram sentidos no Brasil, na América Latina e na África. Por isso, é tão injusto que os países do Norte agora queiram que o Sul Global pague os custos da crise climática em que vivemos” afirmou.
Haddad afirmou que o Plano de Transformação
Ecológica pretende interromper cinco séculos de extrativismo e
destruição do meio ambiente. “Essas iniciativas [do plano] visam criar
as condições para uma nova onda de investimentos que terá como objetivo
principal o adensamento tecnológico da nossa indústria, a qualificação
da nossa força de trabalho e a modernização da nossa ciência e
tecnologia.”
Eixos
O plano está estruturado em seis eixos: financiamento sustentável, desenvolvimento tecnológico, bioeconomia, transição energética, economia circular e infraestrutura e adaptação às mudanças do clima. Entre as medidas, estão o mercado regulado de carbono, a criação de núcleos de inovação tecnológica nas universidades, a ampliação de áreas de concessões florestais, a eletrificação de frotas de ônibus, o estímulo à reciclagem e obras públicas para reduzir riscos de desastres naturais.
Haddad citou estudos que indicam que o Brasil precisa, para transformação ecológica, de US$ 130 a US$ 160 bilhões de investimentos anuais nos próximos 10 anos, principalmente em infraestrutura. “A boa notícia é que temos um histórico de capacidade de mobilização de investimentos e de criação de infraestrutura sustentáveis. Se hoje somos um gigante das energias renováveis é graças aos investimentos públicos”, destacou Haddad, citando os investimentos nas hidrelétricas e na indústria do etanol.
Presente da cerimônia, a ministra do Meio
Ambiente, Marina Silva, destacou que é preciso juntar economia com
ecologia para enfrentar as mudanças climáticas. “Nós já temos a
tecnologia para isso, já temos boa parte da resposta técnica e agora nós
estamos juntando resposta técnica com compromisso ético e político do
presidente Lula de liderar pelo exemplo”, afirmou.
BNDES
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deve ser um dos principais instrumentos de financiamento do Plano de Transformação Ecológica, disse o presidente da instituição, Aloizio Mercadante, presente à divulgação do plano, em Dubai.
“O BNDES estará na linha de frente do financiamento desse plano. Queremos um Brasil verde e descarbonizado, e vamos fazer uma grande COP do Sul Global para liderar essa experiência”, afirmou Mercadante, referindo-se à COP30, que será realizada em Belém, em 2025.
Segundo Mercadante, o banco financiou 90% das hidrelétricas do país e 75% da energia eólica brasileira. “O BNDES é um banco de 71 anos, mas, segundo a Bloomberg [rede internacional especializada em notícias econômicas], é o banco que mais financiou energia renovável, limpa e sustentável da história de todos os bancos do planeta”, concluiu.
Também participaram do anúncio do Plano de Transformação Ecológica do Brasil na COP28 a ex-presidente Dilma Roussef, que hoje preside o banco do Brics, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), e o brasileiro Ilan Goldfajn, que preside o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Texto alterado às15h12 para correção: o plano tem seis eixos, e não cinco
Edição: Nádia Franco