O ataque terrorista do Hamas a Israel no dia 7 de outubro e a imediata resposta das forças israelenses tem produzido cenas de massacre de civis que chocam o mundo. Contrariando todos os pressupostos de humanismo, no entanto, há quem se utilize dessas imagens e trate do horror da guerra não para pedir paz, mas para tentar tirar lucro político. É o caso dos bolsonaristas.
Desde o início do conflito, os seguidores de Jair Bolsonaro apelam para fake news em um esforço de desgastar o governo federal e os políticos de esquerda.
A primeira mentira foi tentar ligar Lula ao Hamas, espalhando que o presidente teria cumprimentado o líder do grupo — na verdade, a foto vinculada a esse texto mostrava o presidente do Irã. Outra fake news foi um suposto envio de recursos do governo atual para o Hamas.
Todas essas “informações” são falsas, segundo constataram veículos de imprensa como o Estadão, o UOL e o portal Terra. Algumas dessas fraudes foram propagadas várias vezes nas redes sociais dos políticos e militantes bolsonaristas.
Denúncia recente feita pela presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, dá conta de um print falso do Diário Oficial dizendo que o governo Lula doou R$ 25 milhões para o Hamas. Além disso, Gleisi apontou manipulação de uma foto do deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP).
“Essa gente não tem projeto de país, o projeto deles é o poder, usando mentiras e a fé das pessoas. Repugnantes, nojentos, imbecis”, ataca a presidente do PT.
Fundador da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia e do Grupo Prerrogativas, o advogado Marco Aurélio de Carvalho lamenta que fora de época de eleição, a Justiça Eleitoral não seja tão efetiva.
“Sou um crítico da postura proativa da Justiça Eleitoral meramente em época de eleições. Eu acho que isso não colabora efetivamente com o amadurecimento da democracia e das instituições”, avalia Carvalho. “Deveria haver uma ação permanente, vigilante a qualquer ameaça às instituições, qualquer ameaça à ordem constitucional, à democracia”.
O advogado acredita que não há nada mais perigoso para a vida democrática do que a indústria de fake news. “Repeli-la apenas e tão somente nos períodos eleitorais, seguramente me parece uma estratégia equivocada”, afirma.
Ele sugere a criação de um observatório de fake news dentro do próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para que a Justiça demande determinadas providências diretamente aos partidos, impondo penas de cassação de registro e aplicação de multa.
“A Justiça comum não vai dar conta disso, porque quando convidada a se manifestar quase sempre se esquiva”, diz Carvalho.
O jornalista Xico Sá, colunista do ICL Notícias, destaca a falta de escrúpulos da estratégia.
“Com o ídolo da extrema-direita fora do foco, o bolsonarismo ainda vivo nas redes sociais manipula as informações sobre as desgraças da guerra”, escreveu ele, na coluna de hoje. “A mesma turma que armou um caminhão-bomba para explodir o aeroporto de Brasília, na véspera do Natal de 2022, agora tenta atribuir a políticos do PT ligações fictícias com o terrorismo do grupo Hamas”.
Com essa tática, os seguidores de Bolsonaro conseguiram marcar posição nos últimos dias nas redes sociais, ligando o governo federal ao conflito para explorá-lo politicamente, como observa o analista de redes e colunista do ICL Notícias Pedro Barciela.
A estratégia, no entanto, não conseguiu atingir pessoas de fora desse
núcleo radical. “O ímpeto e a narrativa adotada pelo bolsonarismo não
dão sinais de diálogo com atores não-polarizados”, diz Barciela.
Por Chico Alves