O tenente coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, teria relatado em sua delação premiada junto à Polícia Federal (PF) que participou de outras reuniões em que Jair Bolsonaro (PL) tratou de um golpe de Estado, além daquela que o ex-presidente buscou apoio - que foi negado - da cúpula das Forças Armadas.
O alerta sobre o conteúdo das novas revelações de Cid teria provocado ainda mais tensão no clã Bolsonaro e nos aliados próximos do ex-presidente.
Para comprovar as revelações de Cid, a PF passou a fazer diligências. Uma das ações dos investigadores é levantar a lista de pessoas que, após o resultado das eleições, se encontraram com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, onde o ex-presidente ficou recluso alegando que estava tratando de uma ferida na perna.
Forças Armadas
Cid delatou que oficiais teriam se reunido com Bolsonaro para discutir detalhes de uma minuta golpista – o plano era sabotar a posse de Lula em primeiro de janeiro. Vazadas a conta-gotas nas últimas semanas, as novas informações reveladas por Cid à PF causaram verdadeiro tsunami na cúpula das Forças Armadas e asfixiaram principalmente o ex-comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos.
Segundo Cid, Garnier teria embarcado prontamente na tramoia golpista proposta por Jair Bolsonaro em reunião secreta com os comandantes das Forças Armadas. Servil ao ex-presidente, a quem devia favores, o marinheiro teria colocado a tropa à disposição do golpe, cobiçando surfar no mesmo enredo do vice-almirante Augusto Rademaker, que, juntamente com o general Costa e Silva e o tenente-brigadeiro Correia de Melo, compôs a tríade que decretou o Ato Institucional nº 1 em 9 de abril de 1964.
General Ridauto
Na sexta-feira (29), a PF deflagrou a 18ª fase da Operação Lesa Pátria para executar um mandado de busca e apreensão em Brasília contra o general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes, acusado de participação nos atos golpistas de 8 de Janeiro.
Ridauto é ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde e ligado ao ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Ele foi nomeado para o cargo em julho de 2021 e exonerado no dia 31 de dezembro, último dia do governo de Jair Bolsonaro.
A ação da PF teve como objetivo de identificar participantes dos fatos ocorridos em 8/1, em Brasília/DF, quando o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal foram invadidos por indivíduos que promoveram violência e dano generalizado contra os imóveis, móveis e objetos daquelas Instituições.
Apura-se que os valores dos danos causados ao patrimônio público no dia 8/1 possam chegar à cifra de R$ 40 milhões.
Os fatos investigados constituem, em tese, os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido.
As investigações continuam em curso e a Operação Lesa Pátria se torna permanente, com atualizações periódicas acerca do número de mandados judiciais expedidos, pessoas capturadas e foragidas.