Uma reportagem do jornal econômico Financial Times, publicada nesta quarta-feira (23), conta que o banco dos Brics planeja começar a emprestar as moedas sul-africana e brasileira como parte de um plano para reduzir a dependência do dólar e promover um sistema financeiro internacional mais multipolar. O jornal destaca a liderança de Dilma Rousseff, presidente da instituição, nesse processo.
Segundo a ex-presidente, “o banco sediado em Xangai está considerando pedidos de adesão de cerca de 15 países e provavelmente aprovará a admissão de quatro ou cinco nações”. Sem citar os países, ela diz que diversificar a representação geográfica é uma prioridade para o New Development Bank (NDB).
“Esperamos emprestar entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões este ano”, disse Dilma Rousseff em entrevista ao Financial Times. Também segundo a publicação, o NDB pretende fazer 30% dos empréstimos em moeda local no Brasil e na África do Sul. O banco já empresta em renminbi, a moeda chinesa.
A expansão dos empréstimos em moeda local busca encorajar o uso de alternativas ao dólar em transações comerciais e financeiras. As nações do Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – criaram o NDB em 2015 como uma alternativa às instituições financeiras lideradas pelos Estados Unidos, como o FMI e o Banco Mundial.
O NDB já emprestou US$ 33 bilhões para projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável e incorporou o Egito, Bangladesh e Emirados Árabes Unidos como membros adicionais, com o Uruguai em fase final de admissão.
De acordo com Dilma, “os empréstimos em moeda local evitariam o risco cambial e as variações nas taxas de juros dos EUA”. O intuito do NDB é criar um sistema financeiro multipolar, refletindo as mudanças na geopolítica no pós Guerra Fria.
Para se diferenciar do Banco Mundial e do FMI, o NDB não estabelece condições políticas para os empréstimos, diz o FT. “Muitas vezes, um empréstimo é concedido sob a condição de que certas políticas sejam executadas. Vamos respeitar as políticas de cada país”, afirmou Dilma ao jornal inglês.
Apesar da sua intenção de oferecer uma alternativa à ordem financeira baseada nos EUA, o NDB foi forçado a suspender todas as operações na Rússia, para evitar ser sancionado e isolado do sistema financeiro internacional, explicou o FT.
Em 2022, a agência de classificação de risco Fitch rebaixou a classificação da dívida do NDB de AA+ para AA, com viés de queda devido à exposição do banco à Rússia, “pois haveria dificuldade para emitir títulos de longo prazo nos mercados de capitais dos EUA”, relembra o jornal. Moscou detém 19,4% do capital do NDB.
A Fitch revisou a perspectiva do NDB para estável em maio de 23, depois do banco ter emitido US$ 1,25 bilhão em títulos verdes, mas não restaurou a classificação AA+. Dilma acredita no crescimento do NDB, o mais novo dos bancos de desenvolvimento do mundo. “Vamos nos transformar em um banco importante para países em desenvolvimento e mercados emergentes”, disse ela.