O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em pelo menos quatro ocasiões em que se viu pressionado politicamente ou judicialmente, teve encontros “privados” com ministros e interlocutores do Supremo Tribunal Federal (STF).
Os compromissos teriam ocorrido nos Palácios do Planalto e da Alvorada, fora da agenda oficial do então presidente. As informações acerca dos encontros estavam registradas em e-mails obtidos de conversas institucionais deletadas pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid.
Os documentos mostram que três ministros do STF foram convidados para os encontros: Kassio Nunes Marques e André Mendonça, ambos indicados pelo ex-capitão, e Gilmar Mendes.
No dia 11 de maio de 2022, Bolsonaro chamou o ministro Nunes Marques, o então presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Martins, seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), e o seu ex-secretário de Justiça José Vicente Santini para um encontro de uma hora, com início às 21h.
A reunião em questão ocorreu no Palácio da Alvorada. A assessoria do ex-presidente não revelou quais assuntos foram tratados no encontro.
Em 23 de fevereiro de 2022, o convidado de Bolsonaro foi o ministro Gilmar Medes. O ex-capitão recebeu Mendes numa agenda mais curta, de apenas 30 minutos, dessa vez no Palácio do Planalto. Novamente o assunto da reunião foi omitido.
Ministro do STF, Gilmar Mendes. (Foto: Reprodução
Gilmar Mendes foi procurado para comentar acerca do encontro “secreto”. O decano disse que teve reuniões com Bolsonaro durante o mandato, mas afirmou que não se recorda de alguma agenda específica em fevereiro do ano passado.
“Estive com ele em alguns momentos de crise”, afirmou o ministro ao Estadão.
Num outro momento de fragilidade do seu governo, Bolsonaro convocou o ministro do STF, André Mendonça, para uma conversa de 50 minutos no Palácio do Planalto.
Um mês antes de se reunir com Mendonça, no entanto, o ex-presidente fez outro encontro com Nunes Marques, José Vicente Santini e, dessa vez, com o ministro Francisco Falcão, do STJ.
Marques, também procurado, disse que “se recorda de uma visita de cortesia ao presidente da República no período mencionado, num fim de semana, fora do horário do expediente”. O magistrado, porém, não explicou o que foi tratado neste o no encontro de maio do ano passado.