O discurso nunca lido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em que reconhecia a derrota nas eleições de 2022 foi escrito por quatro ministros do governo. Além de Fábio Faria, ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), o texto foi preparado por Carlos França (Relações Exteriores), Paulo Guedes (Economia) e Ciro Nogueira (Casa Civil). A informação é da coluna de Malu Gaspar no jornal O Globo.
A sugestão partiu de Faria, que desceu com os outros ministros e com a presidente da Caixa, Daniella Marques, para o gabinete da Secom, um andar abaixo da sala onde estava Bolsonaro. Eles produziram o discurso e colocaram o texto na tela de uma TV, para que todos lessem.
O pronunciamento contava com menções a “ativismo judicial” e a “perseguição da imprensa”, chavões usados por Bolsonaro constantemente. Também havia questionamentos à lisura do sistema eleitoral e do processo de votação.
Apesar das discussões sobre alguns pontos do texto, todos concordaram com o seguinte trecho: “Eu sempre disse que o Brasil está acima de tudo e Deus acima de todos e que daria minha vida pelo Brasil. Por esse motivo, não contestarei o resultado das eleições”.
Os aliados do então presidente chegaram a marcar um pronunciamento e avisaram a imprensa, mas ele decidiu que levaria o texto para casa para pensar melhor e foi para o Palácio da Alvorada.
“Quando ele disse isso, já entendemos que não reconheceria a derrota. Tínhamos perdido a disputa para o pessoal que achava que ele não tinha que dizer nada”, conta um ministro. A expectativa de seus aliados era que ele reconhecesse a vitória de Lula para desmobilizar os acampamentos golpistas feitos por seus apoiadores.
Paulo Guedes e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) chegaram a discutir na manhã seguinte ao segundo turno. O ministro da Economia reuniu outros membros do governo e assessores no Alvorada para discutir o que fazer, mas o filho do ex-presidente se irritou quando falar sobre autorizar a transição para a próxima gestão.