A previsão é de que sejam investidos R$ 4 bilhões no programa, que tem como meta criar, até 2026, 3,6 milhões de novas vagas, sendo 1 milhão de novas matrículas logo na primeira etapa.
A convite do Ministério da Educação, o professor Yuri Norberto, do Centro de Excelência Atheneu Sergipense, está em Brasília para representar educadores brasileiros na solenidade de sanção da legislação. Sergipe é o quarto estado do Brasil com maior taxa de matriculados no ensino integral – das 318 escolas estaduais, 96 são em tempo integral – 11 de ensino fundamental, três de ensinos médio e fundamental, seis de ensino profissionalizante e 76 de ensino médio integral. A previsão é chegar a 156 unidades nos próximos anos.
Em entrevista à Agência Brasil, o professor de sociologia citou projetos classificados por ele mesmo como inovadores na educação, como o Atheneu ONU, um modelo de simulação das Nações Unidas em que os alunos simulam ser chefes de Estado, e o Laboratório de Educação e Aprendizagem Digital, no qual os alunos aprendem sobre marketing, programação e produção de conteúdo.
Norberto também é o criador do projeto Observatório Internacional da Notícia, que tem como objetivo promover uma espécie de alfabetização digital e combater a desinformação.
Confira os principais trechos da entrevista:
Agência Brasil: Na sua avaliação, qual a importância da educação em tempo integral no Brasil hoje?
Yuri Norberto: Acho que esse talvez seja o ponto
fundamental: o grande salto que o Brasil pode dar agora é a educação em
tempo integral porque ela tem essa visão não só de tempo integral, mas
da integralidade do aluno. O Brasil já conseguiu avançar em
alfabetização, em universalizar todos os níveis e modalidades da
educação básica. Estamos prontos pra dar o próximo passo, que é uma
educação integral e que, no meu entender, vem sim por meio da educação
de tempo integral.
Agência Brasil: A partir da sua experiência com a educação integral, o que essa modalidade produz nos alunos?
Yuri Norberto: A gente costuma dizer, na educação em
tempo integral, que a pedra fundamental é o projeto de vida: qual o
sonho que o aluno traz pra escola e como a escola pode potencializá-lo
pra que ele alcance esse objetivo? Não é possível que a gente não
consiga trabalhar e dar ao jovem o direito que ele tem de entender quem
ele é e projetar quem ele quer ser e quais espaços quer alcançar.
Na educação integral, tudo o que a gente faz, leciona e organiza tem como base o projeto de vida dos alunos. É como se fosse um projeto de customização da educação – a gente adapta a escola àqueles alunos pra que ela atenda àqueles projetos de vida. Aí sim a educação faz sentido. Eu, aluno, vou estar em um lugar que me acolhe, que me entende e que me ajuda a potencializar quem eu sou.
Agência Brasil: Dentro desse contexto do ensino integral, que tipo de ações colaboram para a permanência dos estudantes nas escolas?
Yuri Norberto: A tutoria é um processo muito
interessante. É um direito que o aluno tem, de ter uma conversa com
alguém que vai orientá-lo. Temos também as disciplinas eletivas, que a
gente chama de parte diversificada do currículo. No momento em que a
gente pega o currículo, ele vai se apresentar de diferentes formas pro
aluno – às vezes, de maneira mais lúdica, às vezes, de maneira um pouco
mais prática.
É nessa escola que os alunos gostam de estar e onde o processo de aprendizagem é dinâmico, plural, diverso e envolvente. Então, a escola começa a fazer sentido. Ela passa a ser um lugar de afeto e acolhimento atrelado ao aprendizado.
Agência Brasil: Quando a
gente fala em formação integral, é preciso fomentar uma política
educacional que preze pela valorização do professor?
Yuri Norberto: A valorização tem dois caminhos. Claro
que tem a valorização salarial, muito importante. Mas há também uma
valorização da formação do professor. É preciso que o professor tenha a
oportunidade de refazer a sua formação e aprender coisas novas. A
valorização do professor passa por esses dois caminhos: acolhimento,
apoio, salário, mas, principalmente, formação.
Agência Brasil: As mudanças exigiriam, portanto, alterações nos currículos e nas jornadas de trabalho dos profissionais de educação?
Yuri Norberto: Sim. Se você olhar, todas as profissões
mudaram ao longo do tempo. Nós não seríamos exceção. Talvez a profissão
de educador seja a última a estar mudando. A gente continua com a mesma
forma de contratação e de distribuição de carga horária. Parece que
ficamos pra trás. Na verdade, implementar essas alterações nos
currículos e nas jornadas de trabalho dos profissionais de educação
seria acompanhar o passo que a sociedade está dando.
Agência Brasil: O senhor pode detalhar alguns dos projetos que encabeça atualmente e que envolvem o ensino integral?
Yuri Norberto: Vou destacar dois. O Atheneu ONU, um
modelo de simulação das Nações Unidas em que os alunos simulam ser
chefes de Estado de diversos países. Eles pesquisam sobre outros países,
a parte política e geográfica. A partir desse conhecimento, eles
precisam mobilizar um conjunto de tarefas, aprender a negociar,
conversar e a estabelecer prioridades. Assim, a gente vai desenvolvendo o
ser humano como um todo.
Outro projeto que temos é o Laboratório de Educação e Aprendizagem Digital. Os alunos aprendem marketing, programação, produção de conteúdo. Costumo dizer que é a escola dentro da escola, já que a gente refaz o processo de aprendizagem e leva pra dentro da escola coisas que geralmente eles não aprenderiam lá.
Agência Brasil: Como o senhor vê essa retomada de uma política nacional para ampliar as matrículas no ensino em tempo integral?
Yuri Norberto: Vejo com muita esperança. Afinal, a
gente passou um período com a educação em tempo integral com limitação
de expansão. Essa retomada agora com força, com pujança, com um projeto
de lei, o que é muito importante, já que, até então, existia só uma
portaria. É até uma segurança jurídica, algo que vai ficar, algo que a
sociedade toda está demandando. Vejo com muitos bons olhos.
Finalmente, estão enxergando a educação em tempo integral não só como algo exótico e bem sucedido pontualmente, mas como algo que a gente precisa fazer para todo o país, como uma política de massa.
Edição: Denise Griesinger