Logo após a decisão do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
que aprovou a inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL) por oito anos,
por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, o
ex-presidente concedeu entrevista, em Belo Horizonte (MG).
Em
um dos trechos da fala, Bolsonaro ironizou a decisão da Corte
Eleitoral e afirmou que acredita que tenha sido “a primeira condenação
por abuso e poder político”. “Um crime sem corrupção. Isso é crime? Abuso de poder político? Por defender algo que eu sempre defendi quando parlamentar?”, disse.
Em
resposta à fala de Bolsonaro, pelas redes sociais, a deputada
estadual Monica Seixas (Psol-SP), do Movimento Pretas na Assembleia
Legislativa de São Paulo (Alesp), relembra 19 casos de corrupção que
envolvem o ex-presidente inelegível.
"Notem
que o bolsonarismo rapidamente ergue a tese que Bolsonaro foi condenado
sem corrupção. Ele mesmo disse isso na coletiva de imprensa pra
demarcar. A ideia é, obviamente, se fazer de injustiçado. Por isso vou
listar aqui 19 casos de corrupção da história de Bolsonaro", escreveu.
A
parlamentar estadual reforça que no TSE, Bolsonaro não foi julgado por
nenhum dos casos que ela lista e sim por crime eleitoral. "Os demais julgamentos criminais um dia vem!", torce.
1. Rachadinhas
Rachadinha
é a prática de usar cargos públicos para colocar pessoas que desviam
seu o salário para o político. O primeiro caso na família Bolsonaro foi
descoberto em 2018 quando o Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (Coaf),cunidade de inteligência financeira do governo
federal, demonstrou que Fabrício Queiroz, amigo do ex-presidente,
movimentou mais de R$ 6 milhões na conta de Flávio Bolsonaro durante o
mandato de deputado estadual pelo Rio de Janeiro do hoje senador da
República.
Durante as Eleições de 2022, quando Bolsonaro concorreu à reeleição e perdeu para Lula, ele concedeu uma entrevista, em agosto do ano passado, na qual admitiu que o esquema de corrupção conhecido como "rachadinha" é "prática meio comum" entre os políticos.
Ele
também disse ainda que "sobra pouca gente" na política que não cometeu
rachadinha, mas esquivou-se de falar se participou ou não do esquema de
corrupção.
2. Envolvimento com milícias
"Que
Bolsonaro é amigo e homenageou milicianos a gente sabe. Mas vale
lembrar que esposas e mães de líderes do Escritório do Crime já
estiveram entre os assessores fantasmas ou parte da operação de
rachadinha dos Bolsonaros", escreveu Mônica.
A parlamentar se refere a, pelo menos, dois milicianos: Ronald Paulo Alves Pereira e Adriano da Nóbrega. Matéria do Intercept de 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, revela detalhes dessas relações da família do ex-presidente com essa turma da pesada.
3. 'Micheque'
"A
Micheque: nisso das Rachadinhas a justiça indicou Queiroz, assessor de
Flávio e Best de Jair como operador do esquema de pegar salário de
assessores dos gabinetes e… depositar 27 cheques na conta da Michele
Bolsonaro", relembra Mônica
O caso foi revelado em 2020, em reportagem da revista Crusoé,
que mostru que o ex-PM Fabrício de Queiroz, que teria comandado o
esquema de rachadinhas como assessor de Flávio Bolsonaro na Assembleia
Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), depositou pelo menos 21 cheques na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, entre os anos de 2011 e 2018. O valor total chega a R$ 72 mil.
4. Bolsonaro escondeu o Queiroz
"Procurado pela Justiça o Queiroz se escondeu… no sítio do advogado do Jair em Atibaia", postou a parlamentar.
Em junho de 2020, o policial aposentado Fabrício Queiroz, ex-assessor de Jair e Flávio Bolsonaro, foi preso em uma chácara em Atibaia, no interior de São Paulo. O imóvel pertence a Frederick Wassef, que é advogado do senador e também do presidente, no caso Adélio Bispo.
O
ex-assessor foi preso a mando do Ministério Público do Rio de Janeiro
no inquérito relacionado ao esquema de "rachadinha" que operava no
gabinete do então deputado estadual - e hoje senador - Flávio Bolsonaro
na Alerj.
5. Ministro pego em contrabando
"E
o ministro de Bolsonaro que facilitou o CONTRABANDO de MADEIRA, bicho?!
O ministro do meio ambiente!!!! Contrabando, sabe?! Uns dos escândalos
do Salles foi pego pela imprensa e Justiça", provocou Mônica.
A parlamentar se refere ao episódio
ocorrido em maio de 2020, quando o então ministro do Meio Ambiente,
Ricardo Salles,hoje deputado federal, foi alvo de busca e apreensão da
Polícia Federal (PF). Entre os crimes supostamente praticados há a
prática de corrupção, advocacia administrativa, prevaricação e,
especialmente, facilitação de contrabando.
6. Pfizer e Astrazeneca
"E
os 53 e-mails da Pfizer não respondidos enquanto milhares morriam? A
gente sabe que bolsonarista não dá a mínima pra prevaricação, mas quando
o assunto é corrupção é preciso lembrar que diretor do ministério da
Saúde pediu $1 de propina por dose de vacina pra Astrazeneca", pontuou a parlamentar.
Os
casos citados por Mônica vieram à tona em 2021, durante a CPI do
Genocídio, que apurou as omissões do governo Bolsonaro no combate à
pandemia. O então vice-presidente do colegiado, senador Randolfe
Rodrigues (AP), revelou que a administração federal ignorou 53 e-mails da farmacêutica Pfizer sobre oferta de vacinas contra a Covid em 2020.
A propina da vacina foi revelada também durante a CPI do Genocídio. Em junho, a Folha de S.Paulo veiculou matéria na qual um representante
de empresa que vende vacinas afirmou que o governo pediu propina de 1
dólar por dose do imunizante da Oxford/Astrazeneca.
7. Barras de ouro
"Teve
o MEC envolvido em esquema de barras ouro pra pastores amigos do
ministro em esquema de dinheiro da Educação para impressão de Bíblias", listou.
Em junho de 2022 mais um escândalo de corrupção atingiu o governo Bolsonaro. Pouco menos de três meses após deixar o cargo, o pastor e ex-ministro da Educação Milton Ribeiro foi preso por suspeita de montar um balcão de negócios juntamente com os também pastores Arilton Moura e Gilmar Santos na
liberação de verbas do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação) por meio de propinas, pagas até mesmo em barras de ouro.
8. Cartão de Corporativo
"Sigilo
dos gastos do Cartão de Corporativo que depois de derrubados a gente
pode ver que foram usados para pôr combustível e pagar lanches para as
Motociatas de Bolsonaro. O cartão corporativo não pode ser usado para
despesas de terceiros", lembrou a deputada.
O Governo Lula divulgou um link onde
constam os gastos com cartões corporativos de 2003 - quando o
presidente abriu os gastos do governo em seu primeiro mandato - até o
dia 19 de dezembro de 2022, incluindo as informações recorrentemente
negadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. A
planilha mostra que Bolsonaro gastou ao menos R$ 27,6 milhões no cartão
corporativo nos quatro anos de governo, uma média de R$ 6,9 milhões por
ano.
9. Joias sauditas
"As
joias dos Sauditas (aqui não vou falar da relação com um país nada
democrático em que execuções políticas são mato). O presidente ganhou
milhões em joias depois de vender uma plataforma da Petrobras por um
valor muito abaixo do valor real", recordou a deputada.
O
pacote de joias sauditas ao qual Mônica se refere foi apreendido em
outubro de 2021 junto à comitiva do então ministro de Minas e Energia
de Jair Bolsonaro (PL), Bento Albuquerque, pela Receita Federal do
aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. As
joias de luxo avaliadas em R$ 16,5 milhões foram identificadas por
Albuquerque como um presente da monarquia da Arábia Saudita à então
primeira-dama Michelle Bolsonaro.
10. Fraude no cartão de vacina
"Fraudou
dados do ministério da Saúde pra levar a filha e assessora pro EUA. É
isso. Cid, que pagava as contas de Michele entrou no sistema e mentiu
sobre ter se vacinado. Sobre a Filha de Bolsonaro ter se vacinado…", relata Mônica.
Em abril deste ano, a Polícia Federal revelou que o ex-presidente Bolsonaro fraudou o cartão de vacinação dele e de seus familiares e assessores.