Na Cúpula do Novo Pacto Financeiro Global realizada quinta-feira passada em Paris, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva participou com um discurso marcado por determinação, liberdade e precisão.
Lula questionou de forma incisiva as instituições multilaterais e sua falta de ação diante do crescente abismo das desigualdades globais. Sua participação nesse importante evento o posicionou como um porta-voz e líder cada vez mais autorizado das nações pobres do Sul Global, trazendo à tona questões cruciais como o meio ambiente e a preservação da Floresta Amazônica, mencionando especificamente os diversos países amazônicos.
Ele enfatizou a falta de ação das instituições multilaterais diante de uma ordem econômica injusta, que apenas amplia o fosso entre ricos e pobres, ao mencionar casos como o da Argentina, nações africanas e o próprio Brasil.
Ao abandonar o texto escrito previamente, que não o satisfazia, optando pelo improviso, a fala de Lula combinou sentimentos e fatos: "Em muitos lugares do mundo, as empresas que retiram minérios sequer reflorestam a floresta. Deixam o buraco e vão embora." Essa afirmação ressalta a necessidade urgente de abordar a questão ambiental de forma mais eficaz, garantindo que a exploração dos recursos seja sustentável e responsável.
Com 77 anos de idade, Lula declarou sua intenção de agir e fazer diferença como se tivesse apenas 30 anos. Ele enfatizou seu compromisso de entregar, até 2030, uma Amazônia com desmatamento zero e de combater novamente a fome. Lula também mencionou a ex-presidente Dilma Rousseff, atual presidente do Banco dos BRICS, destacando os esforços conjuntos para acabar com a fome e oferecer apoio financeiro a países mais pobres. Essa cooperação entre as nações do BRICS é essencial para promover o desenvolvimento sustentável e reduzir as desigualdades. No que diz respeito às florestas tropicais, Lula anunciou que vai articular ações com países tão distantes como o Congo e a Indonésia, ambos detentores de extensas florestas como o Brasil.
Além disso, Lula provocou discussões sobre a necessidade de criar novas moedas para o comércio internacional, rompendo com a dependência do dólar. Ele questionou por que o Brasil e a Argentina, por exemplo, devem realizar transações comerciais em dólares, argumentando que elas poderiam ser feitas em suas moedas nacionais. Essa proposta não apenas busca fortalecer as economias desses países, mas também incentiva uma maior independência econômica e comercial.
Em um tom de conversa com líderes de outras nações presentes, que não escondia um certo inconformismo, Lula afirmou: "Esses fóruns não podem ser um grupo de luxo, a elite política. Nós temos que chamar os desiguais, os diferentes, para que possamos abordar a pluralidade dos problemas que o mundo enfrenta." Com isso, ele enfatizou a importância de dar voz às nações menos favorecidas, incluindo as nações africanas, para que possam participar ativamente das discussões e decisões globais. Lula aspira a construir uma América do Sul unida, inspirada pela União Europeia, onde as divergências encontrem espaço para debate democrático.
Ao mesmo tempo em que expressou seu respeito pela construção da União Europeia, Lula apontou a necessidade de revisar o funcionamento do Banco Mundial e do FMI, exigindo uma maior representatividade e participação de países em desenvolvimento nas decisões e direções dessas instituições. Argumentou que não é possível continuar com as mesmas estruturas de poder estabelecidas em 1945, quando há desafios e realidades muito diferentes no século XXI.
A presença de Lula na Cúpula do Novo Pacto Financeiro Global foi um marco importante, reforçando sua liderança e compromisso com a defesa dos interesses das nações mais pobres. Sua fala contundente e seu chamado à ação ecoam a necessidade urgente de enfrentar as desigualdades globais, proteger o meio ambiente e promover um sistema financeiro mais inclusivo e equitativo.
A eloquência de Lula foi tão impactante que nem mesmo seus inimigos mais frequentes na mídia de direita encontraram espaço para críticas diante de argumentos irrefutáveis, preferindo minimizar o destaque dado à sua participação, que contribuiu para extrair mais uma promessa dos países ricos: fornecer 100 bilhões de dólares de ajuda aos países pobres em financiamento climático, além de aliviar suas dívidas.
Sem qualquer timidez, com domínio cada vez maior dos dados e das ideias a serem defendidas, aproveitando sua autoridade como presidente, testemunha e protagonista da cena internacional por mais de duas décadas, Lula exibe a essa altura uma convicção incomparável sobre a necessidade e os obstáculos para articular esforços com outras nações do chamado Sul Global. Nesta viagem à Europa, confrontando a inação dos países ricos, ele encontrou o ponto adequado para postular a liderança necessária e mobilizar nações parceiras na imensa tarefa de revolucionar a ordem mundial tornando-a capaz de contribuir efetivamente para superar as desigualdades.
Embora não seja uma tarefa de curto prazo, Lula espera que os fóruns internacionais, especialmente os países ricos, se tornem mais comprometidos com suas promessas até a COP-30, que o Brasil sediará em Belém, na entrada da Amazônia. A reunião vai ocorrer em 2025, ano anterior à próxima eleição presidencial, data que não deve ter passado despercebida pelo energizado presidente brasileiro. Aos 77 anos de idade, Lula vem seguidamente declarando uma vontade de agir e realizar como se tivesse apenas 30.