O ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres demonstrou interesse em firmar um acordo de delação premiada, afirmam fontes da Polícia Federal consultadas pelo Correio. Ele está preso desde 14 de janeiro, suspeito de envolvimento nos atentados às sedes dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro.
A delação seria uma forma de colaborar com o Poder Judiciário e evitar uma pena mais severa, que pode, inclusive, fazer com que ele perca o cargo público de delegado.
Nos últimos dias, a situação de Torres ficou mais complicada. A Polícia Federal identificou um documento, produzido pela equipe do então ministro, com mapa detalhado dos locais onde o petista Luiz Inácio Lula da Silva venceu o primeiro turno das eleições de 2022.
A corporação também identificou uma visita de Torres à superintendência da PF na Bahia às vésperas do segundo turno do pleito, ocorrido em 30 de outubro. A suspeita é de que ele tentou persuadir a PF no estado para atuar junto à Polícia Rodoviária Federal (PRF) e impedir a chegada de eleitores de Lula às zonas de votação.
Conforme as apurações, Torres solicitou o aumento das operações de fiscalização do transporte coletivo de eleitores. A PF teria ignorado o pedido, mas a PRF, não. Dos mais de 500 pontos de blitz pelo país, em 30 de outubro, metade ocorreu em estados nordestinos, onde Lula teve mais votos.
Denúncias de eleitores, publicadas nas redes sociais, na ocasião, apontaram dezenas de ações da PRF que causaram bloqueios e lentidão no trânsito.
Fontes na PF afirmam que Torres teme ser condenado e passar anos preso, o que faz com que ele cogite apontar outras pessoas que teriam responsabilidade na articulação das operações da PRF. A corporação também mira eventual envolvimento do ex-presidente Jair Bolsonaro, que buscava a reeleição.
Procurada pela reportagem, a defesa de Torres, que assumiu recentemente o caso, negou que o cliente esteja negociando qualquer acordo de delação.
Ainda em janeiro, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), estava convencido de que o ex-titular do Ministério da Justiça poderia contar o que sabe a respeito dos ataques golpistas de 8 de janeiro. As investigações correm sob sigilo.
Na época dos ataques, Torres era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, mas estava nos Estados Unidos para onde havia viajado dias antes.
Outra preocupação de Torres é a chamada minuta do golpe — documento encontrado na casa dele que previa a instauração de estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A intenção era reverter o resultado da eleição que definiu Lula como presidente da República.
Em depoimento à PF, Torres negou que tenha atuado para facilitar o ataque de extremistas a prédios públicos na capital federal e disse “ser um democrata”. Sobre a minuta, afirmou que se trata de um documento genérico, que seria descartado, não tendo relação com qualquer tentativa de golpe de Estado.
Por ordem de Moraes, Torres está detido preventivamente no 4º Batalhão de Polícia Militar do Distrito Federal, no Guará. Como é delegado federal, tem direito de ocupar uma sala de Estado-Maior, com acomodações mais confortáveis, televisão e permissão de receber alimentação externa. A defesa anterior chegou a requerer a soltura ou cumprimento de prisão domiciliar, mas teve a solicitação negada pelo magistrado.