Na véspera de seu depoimento à Polícia Federal, sob o risco de ser delatado pelo se ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, e com medo de ser preso, Jair Bolsonaro entregou nesta terça-feira (4) à Caixa Econômica Federal, através de sua defesa, o terceiro estojo de joias que recebeu como um presente dado por autoridades da Arábia Saudita em 2019 ao Estado brasileiro e que tentou se apropriar de maneira clandestina.
O primeiro conjunto de artigos valiosos, que incluía peças de diamante, avaliadas em R$ 16,5 milhões, foi apreendido pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos (SP). Um segundo kit com artigos de luxo e armas de uso restrito que estavam sob a posse de Bolsonaro foi devolvido por sua defesa ao Estado brasileiro no dia 24 de março. Este terceiro estojo de joias vindo da Arábia Saudita, estava "escondido", junto a outros presentes recebidos por Bolsonaro, em uma propriedade gigantesca do ex-piloto de Fórmula 1 bolsonarista Nelson Piquet, no Lago Sul, em Brasília.
A entrega desta nova remessa de artigos de luxo se deu após Bolsonaro ser emparedado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que na última quarta-feira (29) acatou uma ação protocolada pela deputada federal Luciene Cavalcante (PSOL-SP) e determinou não só a entrega das joias, bem com uma auditoria na fazenda de Nelson Piquet para saber que outros presentes o ex-presidente poderia ter se apropriado de forma ilegal e que estariam também escondidos.
PF fala em indício concreto contra Bolsonaro às vésperas do depoimentoO delegado Adalto Ismael Machado, da Polícia Federal, concedeu na última semana à defesa de Jair Bolsonaro uma cópia do inquérito que apura o caso das joias árabes que o ex-presidente tentou se apropriar ilegalmente. O ex-mandatário, que retornou ao Brasil esta semana após 3 meses nos Estados Unidos, foi intimado a prestar depoimento aos investigadores nesta quarta-feira (5).
No inquérito ao qual os advogados de Bolsonaro tiveram acesso, o delegado responsável pela investigação fala em "indícios concretos" do envolvimento do ex-presidente no escândalo, sinalizando que ele pretendia, ao contrário do que diz sua defesa, ficar com as joias em caráter pessoal, violando a lei que prevê a incorporação dos presentes de alto valor dados por autoridades de outros países ao patrimônio do Estado.
O principal indício, segundo reportagem do jornal O Globo, consiste no ofício do dia 28 de dezembro de 2022, disponível no Portal da Transparência, em que o então ajudante de ordens de Bolsonaro, coronel Mauro Cid, solicita que o secretário da Receita Federal libere as joias de R$ 16,5 milhões que tinham sido apreendidas no Aeroporto de Guarulhos (SP), em outubro de 2021, com um assessor do ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. No documento, Mauro Cid indica que a Receita deveria entregar o estojo valioso ao servidor Jairo Moreira da Silva para "atender demandas do Senhor Presidente da República".
O servidor tentou cumprir a missão e, de fato, viajou até o Aeroporto de Guarulhos no dia 29 de dezembro de 2022 para tentar resgatar as joias, mas não teve sucesso graças à recusa de um servidor da Receita, que cumpriu a lei que prevê que somente com a comprovação de que o presente iria para o patrimônio da União ou pagar tributos e multa permitiria a liberação do presente - o que não ocorreu.
Há, inclusive, um vídeo do circuito de câmeras da Receita Federal no aeroporto que flagrou, inclusive com áudio claro e compreensível, a tentativa do assessor de recuperar as joias para que Bolsonaro as incorporasse em seu acervo pessoal de forma clandestina.