Na visão da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, a deputada eleita Marina Silva (Rede), as invasões terroristas na praça dos Três Poderes, em Brasília (DF), tem uma correlação direta aos quatro anos de aumento no desmatamento e de leniência com crimes ambientais.
Até então, as investigações sobre as manifestações bolsonaristas já relataram vínculos, de financiamento ou logística, com setores do agronegócio contrários ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os detidos em Brasília, quando interrogados, entregaram financiadores do agronegócio.
“Parte dessa turba enfurecida vem de práticas nos setores ligados a desmatamento, grilagem, tráfico de madeira, pesca ilegal, garimpo ilegal”, informou a ministra, em entrevista à Folha.
Durante a entrevista, quando questionada sobre relação entre “os organizadores dos atos golpistas e os agentes de crimes ambientais ligados ao agronegócio da Amazônia”, aproveitou para concordar com o decreto de intervenção federal no DF feito por Lula e disse que isso revelou “uma correlação entre o que estava acontecendo em Brasília e as práticas ilegais da Amazônia”.
“Uma boa parte disso são aqueles que estão sendo investigados, que são estrategistas, financiadores, estimuladores, articuladores dessa barbaridade política em vários níveis. Mas uma boa parte era uma turba enfurecida daqueles que, durante o governo Bolsonaro, saíram da expectativa da impunidade que todo criminoso tem para a certeza da impunidade”, disse Marina.
“Parte dessa turba enfurecida vem de práticas nos setores ligados a desmatamento, grilagem, tráfico de madeira, pesca ilegal, garimpo ilegal. Obviamente, o cuidado que a gente tem que ter é de não fazer generalizações”, continuou.
Na perspectiva de Marina, com os incentivos corretos, por meio de reforma tributária, eles podem convencer os produtores rurais a cumprirem de fato a legislação e evitarem as práticas prejudiciais a natureza, e política democrática, que no governo anterior, do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) acabou não acontecendo.
Ainda na entrevista, indagada sobre as possibilidades de diálogo com o agronegócio, mesmo sabendo que eles defendem propostas antiambientais, a ministra disse: “O diálogo é a possibilidade de convencer e de ser convencido. Não pressupõe uma imposição daquilo que não pode ser aceito do ponto de vista legal e das relações políticas civilizadas”.
“A novidade é que hoje nós temos também um setor relevante do agro comprometido com a agenda da sustentabilidade, que também é incomparavelmente maior e mais atuante do que nós tínhamos há 20 anos. Então temos uma boa base para trabalhar transversalmente o trilho dessa transição para uma agricultura de baixo carbono”, encerrou.