O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que agentes de Estado, entre eles militares, têm que “servir ao país e não podem ter lado”. Ao comentar os atos terroristas do último domingo (8/1), Lula disse que “jamais” imaginou que iria acontecer o que ocorreu e ainda estava “embevecido” com o sucesso da cerimônia de posse no dia 1º de janeiro.
“Se vocês perguntarem para mim: ‘Lula, você sabia que ia acontecer o que aconteceu?’ Eu não sabia, não sabia nem previa o que ia acontecer, porque as informações que nós tínhamos, a fotografia que me mostravam era que o acampamento estava diminuindo”, informou ele em café da manhã com jornalistas, no Palácio do Planalto, nesta quinta-feira (12/1).
“Eu não quero saber se um soldado qualquer votou Bolsonaro ou votou Lula. Eu não quero saber se um general votou no Lula. Não é essa a minha preocupação. A minha preocupação é que quem tem e participa de carreira de Estado tem que pensar nesse país e tem que servir ao país e não pode ter lado. O lado deles é o cumprimento daquilo que está garantido na Constituição como função de cada um de nós”, continuou Lula.
O presidente citou vídeos do último domingo que indicam possível omissão dos agentes de segurança durante as invasões de edifícios públicos por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Estou esperando a poeira abaixar. Eu quero ver todas as fitas que foram gravadas dentro da Suprema Corte, da Câmara, do Palácio do Planalto… Teve muita gente conivente. É importante dizer”, disse o presidente.Sobre a relação com as Forças Armadas, Lula ressaltou que conviveu muito bem com Exército, Marinha e Aeronáutica e investiu nas Forças durante os oito anos em que governou o país (entre 2003 e 2010). E disse que é preciso lembrar que elas não são um poder moderador, como alguns bolsonaristas alegam.
“As Forças Armadas sabem que o seu papel está definido na Constituição. As Forças Armadas não são o poder moderador como eles pensam que são. As Forças Armadas têm um papel na Constituição, que é a defesa do povo brasileiro e da nossa soberania contra inimigos externos. É isso que é o papel das Forças Armadas e está definido na nossa Constituição. É isso que eu quero que eles façam bem feito”, pontuou, criticando ainda a participação de militares na fiscalização das eleições. “Acho que a democracia deve ser cuidada pela sociedade civil, por partidos políticos.”
Lula ainda afirmou que Bolsonaro conseguiu “poluir” as Forças Armadas.
Intervenção e GLO
Lula disse ainda ter sido obrigado a decretar intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal e justificou por que não recorreu a um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), uma das opções na mesa:
“Se eu tivesse feito GLO, eu teria assumido a responsabilidade de abandonar a minha responsabilidade. Aí, sim, estaria acontecendo o golpe que as pessoas queriam. O Lula deixa de ser governo para que algum general assuma o governo. Quem quiser assumir o governo, dispute uma eleição e ganhe. É por isso que eu não fiz GLO”.
Segundo Lula, o país já voltou à normalidade e o ocorrido no dia 8 de janeiro foi um alerta para mais cuidado e “serviu de lição para todo mundo”.
Ele reforçou ainda ter derrotado Bolsonaro, mas lembrou que o bolsonarismo “está aí” e o fanatismo é delicado, porque não há respeito aos divergentes. Ele defendeu que os terroristas têm que ser presos.
No café da manhã com jornalistas, estavam sentados à mesa principal o presidente Lula, à esquerda a esposa, Rosângela da Silva, a Janja, e à direita, o ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta. O secretário de imprensa, José Chrispiniano, estava ao lado de Janja. Apenas Lula e o ministro da Secom falaram durante o encontro, sendo que o auxiliar falou brevemente.