Reuters - O U.S. Marshals, agência de aplicação da lei encarregada de proteger o Judiciário nos Estados Unidos, alertou os juízes federais norte-americanos sobre níveis de ameaça excepcionalmente altos, já que o bilionário Elon Musk e outros aliados do presidente dos EUA, Donald Trump, aumentam os esforços para desacreditar os juízes que se opõem às medidas da Casa Branca para cortar empregos e programas federais, disseram juízes com conhecimento dos avisos.
Nas últimas semanas, Musk, os republicanos do Congresso e outros importantes aliados de Trump pediram o impeachment de alguns juízes federais ou atacaram sua integridade em resposta a decisões judiciais que retardaram as medidas do governo para desmantelar agências governamentais inteiras e demitir dezenas de milhares de trabalhadores.
Musk, a pessoa mais rica do mundo, criticou os juízes em mais de 30 publicações desde o final de janeiro em seu site de mídia social X, chamando-os de "corruptos", "radicais", "malignos" e ridicularizando a "tirania do Judiciário" depois que os juízes bloquearam partes do enxugamento federal que ele liderou. O presidente-executivo da Tesla também repostou quase duas dúzias de publicações de outras pessoas atacando juízes.
Entrevistas feitas pela Reuters com 11 juízes federais em vários distritos revelaram um alarme crescente sobre sua segurança física e, em alguns casos, um aumento nas ameaças violentas nas últimas semanas. A maioria falou sob condição de anonimato e disse que não queria inflamar ainda mais a situação ou fazer comentários que pudessem ser interpretados como conflitantes com seus deveres de imparcialidade. O Marshals Service se recusou a comentar sobre questões de segurança.
Como a Reuters relatou em uma série de reportagens no ano passado, a pressão política sobre os juízes federais e as ameaças violentas contra eles têm aumentado desde a eleição presidencial de 2020, quando os tribunais federais lidaram com uma série de casos altamente politizados, incluindo ações judiciais fracassadas movidas por Trump e seus apoiadores que buscavam anular sua derrota.
Os recentes ataques retóricos a juízes e o aumento das ameaças colocam em risco a independência judicial que sustenta a ordem constitucional democrática dos Estados Unidos, afirmam especialistas jurídicos.
John Roberts, presidente da Suprema Corte dos EUA, em seu relatório anual de fim de ano em dezembro, alertou sobre o número crescente de ameaças à independência do Judiciário, incluindo pedidos de violência contra juízes e sugestões "perigosas" de autoridades eleitas para desconsiderar decisões judiciais das quais discordam.
Nas mídias sociais, Musk e parlamentares republicanos descreveram os juízes como ameaças à democracia, transformando o papel do Judiciário federal -- um ramo do governo criado para controlar o Poder Executivo e o poder do Congresso -- em algo negativo.
"A única maneira de restaurar o governo do povo nos Estados Unidos é destituir os juízes", escreveu Musk em uma publicação. "Ninguém está acima da lei, inclusive os juízes."
Musk não respondeu a um pedido de comentário sobre sua onda de críticas contra o Judiciário.
Vários juízes disseram que o U.S. Marshals Service, que fornece segurança, os informou sobre um ambiente de ameaça elevada nas últimas semanas, seja verbalmente ou por escrito. Os Marshals também discutiram medidas de segurança, disseram os juízes, incluindo buscas regulares por postagens ameaçadoras on-line.
Dois juízes federais de Nova York -- os juízes distritais dos EUA Paul Engelmayer e Jeannette Vargas -- estão recebendo segurança extra depois que suas decisões bloquearam o acesso da equipe do Departamento de Eficiência Governamental, dirigido por Musk, a dados confidenciais do Departamento do Tesouro, de acordo com uma pessoa com conhecimento do assunto. Engelmayer e Vargas não responderam aos pedidos de comentários.
Outra pessoa familiarizada com o ambiente de segurança judicial disse que vários juízes federais na área de Washington D.C. receberam pizzas enviadas anonimamente para suas casas, o que está sendo interpretado pelas autoridades policiais como uma forma de intimidação destinada a transmitir que o endereço de um alvo é conhecido.
"Nunca vi juízes tão desconfortáveis como agora", disse John Jones 3º, ex-juiz distrital dos EUA na Pensilvânia, nomeado pelo ex-presidente republicano George W. Bush em 2002.
Jones, que também atuou no comitê de segurança do braço de formulação de políticas do Judiciário federal dos EUA, disse que conversou com cerca de uma dúzia de juízes atuais que expressaram preocupação com a segurança deles e de suas famílias.
"As consequências são, de forma bastante clara, que um juiz será morto se não tomarmos cuidado", disse Jones.
Os tribunais federais estão julgando mais de 100 ações judiciais que contestam as iniciativas do governo Trump, muitas delas focadas nos esforços conduzidos por Musk e sua equipe no DOGE para demitir centenas de milhares de funcionários federais e reduzir drasticamente a ajuda governamental e os programas regulatórios.
Trump e sua secretária de imprensa da Casa Branca também criticaram juízes que eles descrevem como ativistas que emitiram decisões que retardaram ou bloquearam alguns desses esforços.
Questionado sobre os comentários de Musk, o porta-voz da Casa Branca, Harrison Fields, disse que Musk estava falando em caráter pessoal e que a Casa Branca não tomou nenhuma posição sobre se os juízes deveriam sofrer impeachment.
Ele disse que "ameaças contra juízes são inaceitáveis, e o presidente condena tais ações", e que as agências de aplicação da lei apropriadas que têm a tarefa de vigiar tais ameaças estão fazendo isso.
"A Casa Branca condena qualquer ameaça a qualquer funcionário público, apesar de acharmos que muitas dessas pessoas são juízes esquerdistas e malucos que não estão seguindo a Constituição", disse Fields. "O fato de essas pessoas serem de esquerda, loucas e inconstitucionais não significa que mereçam ser prejudicadas. Não é assim que você se envolve em disputas neste país."