O indiciamento de Jair Bolsonaro (PL) por participação no plano de golpe de Estado abriu margem para novas movimentações na direita, visando as eleições presidenciais de 2026. Já inelegível até 2030 após decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-presidente ainda pode ser preso, tornando sua situação eleitoral irreversível.
O inquérito da Polícia Federal, que também implicou o general Walter Braga Netto, ex-vice de Bolsonaro, e outros aliados, fortaleceu a percepção de que o ex-presidente enfrenta desafios para manter sua influência política. De acordo com analistas, o caso dificulta a busca por apoio a projetos de anistia no Congresso e alimenta o debate sobre alternativas no campo conservador.
Governadores como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União-GO), Romeu Zema (Novo-MG) e Ratinho Júnior (PSD-PR) ganham destaque como potenciais sucessores. Tarcísio, considerado herdeiro político de Bolsonaro, defendeu o ex-presidente em nota, afirmando que as acusações carecem de provas e pedindo responsabilidade nas investigações.
Já Caiado, que recentemente rompeu com Bolsonaro, adotou um tom cauteloso: “Vejo com muita preocupação [o indiciamento pela PF] e aguardo o final do julgamento”. Entre os quatro governadores citados, ele é o único que admitiu publicamente interesse em disputar a Presidência.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) – Divulgação/Agência Brasil
Mesmo que o indiciamento não altere imediatamente sua inelegibilidade, Bolsonaro poderá enfrentar um período ainda maior de afastamento político caso seja condenado. Segundo especialistas, a Lei da Ficha Limpa prevê que o prazo de oito anos sem direitos políticos só começa a contar após o cumprimento da pena, o que pode ampliar consideravelmente seu período fora das urnas.
Outros aliados do ex-presidente também foram implicados. O general Braga Netto e o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), por exemplo, podem ter suas aspirações políticas comprometidas em caso de condenação. Ramagem, que disputou sem sucesso a prefeitura do Rio, pode perder espaço na corrida eleitoral de 2026.
Em entrevista ao Globo, o cientista político Leandro Consentino, do Insper, apontou que o campo conservador pode se dividir em duas vertentes: uma moderada, ou menos extremada, liderada por figuras como Tarcísio, Caiado e Zema, e outra mais radical, associada aos filhos de Bolsonaro e nomes como Pablo Marçal (PRTB).
Este último grupo, inclusive, acredita que as acusações contra o ex-presidente podem fortalecê-lo: “A perseguição só aumenta as chances de Bolsonaro. O povo não gosta disso”.