De acordo com o levantamento, os homens são as maiores vítimas, respondendo por 86% das mortes associadas ao consumo de álcool e representando a maior parte dos custos hospitalares e previdenciários. Os gastos diretos, que incluem internações e procedimentos ambulatoriais, somaram R$ 1,1 bilhão, enquanto os custos indiretos – como licenças médicas, aposentadorias precoces e perda de produtividade – foram estimados em R$ 17,7 bilhões.
O diretor da Vital Strategies no Brasil, Pedro de Paula, destaca a importância desses dados para a criação de políticas públicas eficazes. Conhecer os custos atrelados às consequências do consumo de álcool para a saúde e os cofres públicos é fundamental para a formulação de políticas públicas baseadas em evidências, pontuou. A discussão sobre a implementação de um imposto seletivo que incida sobre bebidas alcoólicas e outros produtos nocivos à saúde ganha força no Congresso Nacional, em meio ao avanço da reforma tributária. Este imposto seria uma tentativa de desestimular o consumo e aliviar o sistema de saúde, que lida com as consequências do uso excessivo de álcool.
Segundo o pesquisador Eduardo Nilson, que liderou o estudo, a tributação de bebidas alcoólicas poderia reduzir tanto o consumo quanto o impacto financeiro do álcool sobre a sociedade. “Com o aumento do preço por litro, há uma redução no custo social do consumo sem afetar a arrecadação”, explicou Nilson. Ele observa que modelos de aumento de impostos sobre o álcool, adotados em países como a Ucrânia e a Finlândia, reduziram drasticamente o número de mortes relacionadas ao consumo de bebidas alcoólicas.
A questão é acompanhada por uma expressiva aprovação popular. Uma pesquisa Datafolha realizada em 2023 aponta que 94% dos brasileiros apoiam a taxação de produtos prejudiciais à saúde, incluindo o álcool. A maioria (73%) também aprova a destinação desses recursos para o Sistema Único de Saúde (SUS), visando reforçar o atendimento médico e a prevenção de doenças ligadas ao consumo de álcool.
O estudo da Fiocruz também lançou luz sobre as disparidades de gênero no consumo de álcool. Embora a prevalência de consumo seja maior entre homens, as mulheres ocupam uma fatia significativa nos atendimentos ambulatoriais relacionados ao álcool, especialmente no que diz respeito ao câncer de mama. Dados do Vigitel mostram que o consumo abusivo entre mulheres praticamente dobrou nos últimos anos, o que pode resultar em um aumento nos casos de doenças graves no futuro.
A campanha “Quer uma dose de realidade?”, lançada nesta terça-feira, visa ampliar a conscientização da população e dos legisladores sobre os perigos do consumo de álcool.