Enquanto servidores públicos e voluntários resgatam e cuidam de vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul, hordas digitais de extrema direita lutam para afundá-las ainda mais na lama com a propagação de mentiras que dificultam a chegada de socorro, de água e comida.
O processo não é orgânico. Ou seja, vai muito além de malucos fermentando ódio espontaneamente em seu vazio interior, mas vem sendo estimulado por lideranças políticas, influenciadores e mercadores da morte. É um projeto, não um acidente. Como já comentei antes, o objetivo é lucrar com a desgraça alheia com a audiência das mentiras e impedir que o governo Lula seja reconhecido pela resposta que vem dando à tragédia.
Os arquitetos do caos beneficiam-se do mecanismo de “viés de confirmação” nas bolhas do bolsonarismo radical. O público aceita e compartilha bovinamente conteúdos que recebem, pouco se importando se são fraudulentos ou não, porque concordam com eles.
Como essas mensagens afirmam que Lula vem agindo de forma incompetente e criminosa no Rio Grande do Sul, e isso vai totalmente ao encontro de sua visão sobre o petista, então encaram o conteúdo como fato. Para eles, verdade é tudo aquilo que mostra que o governo federal fez algo ruim e mentira é tudo o que aponta que ele produziu uma coisa boa. A terceirização do raciocínio individual é o último degrau da polarização política.
Como já disse aqui, nenhum governante merece aplausos por fazer o seu trabalho em uma catástrofe. Mas em um Brasil acostumado em ver presidente dar uma passadinha rápida para mandar um salve a atingidos pelas chuvas na Bahia e depois sair correndo para tirar férias, em local paradisíaco, andando de jet ski e brincando em carros de corrida, enquanto as vítimas afundavam na lama, a volta à normalidade causa um estranhamento positivo.
A última rodada da pesquisa Genial/Quaest aponta que a ajuda ao Rio Grande do Sul aparece como a segunda notícia positiva sobre o governo Lula mais vista, lida ou ouvida pelos brasileiros, somente atrás do Bolsa Família. Além disso, a avaliação geral positiva do governo Lula na região Sul, fortaleza de votos bolsonaristas, subiu de 25%, em fevereiro, para 34%, em maio, e a negativa ficou estável dentro da margem, oscilando de 42% para 41%.
Ainda é cedo para cravar que há uma relação direta com a tragédia, mas a extrema direita não quis esperar para ver e está trabalhando a toda, nas redes sociais e aplicativos de mensagens, a fim de disputar a narrativa sobre a reação à catástrofe. Aproveitam-se que contam com milhões de seguidores que repassam como verdade qualquer conteúdo que é contra o seu “inimigo”.
Enquanto servidores públicos e voluntários lutam uma guerra para resgatar famílias, encontrar corpos, reconstruir pontes e levar água e comida, uma parte da extrema direita, no conforto do seu sofá, está em outra guerra, a de narrativas, a fim de reduzir a importância do peso do poder público na resposta. Essa batalha vai ser decisiva para a percepção final da população sobre o que, de fato, aconteceu. Ao que tudo indica, independente dos fatos.
A questão aqui não é o governo do petista naufragar, mas o atendimento às vítimas fazer água, uma vez que fake news atestam que doações não estão chegando, o que pode reduzir o desejo de doar, por exemplo. É triste, mas o ódio de radicais contra Lula é maior que sua empatia com o sofrimento gaúcho.