A Polícia Federal (PF) deflagrou uma operação na manhã deste domingo (24) na qual prendeu os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão pelo suposto envolvimento na morte de Marielle. O ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa também foi detido.
Apontar a proximidade de Bolsonaro com os mandantes e o executor do assassinato da vereadora não é mera especulação, mas sim uma constatação dos fatos. Ronnie Lessa era conhecido por ser um dos matadores de aluguel do Escritório do Crime, grupo liderado por Adriano da Nóbrega, assassinado em fevereiro de 2020.
Ambos frequentaram o curso de formação do Bope ao mesmo tempo em que atuavam como seguranças para famílias de bicheiros no Rio de Janeiro. Apesar de competirem pelo título de melhor assassino profissional do Rio de Janeiro, Lessa e Nóbrega frequentemente se uniam para eliminar alvos em comum. A relação dos ex-policiais com a família Bolsonaro remonta a essa época.
Como se sabe, Flávio Bolsonaro empregou a mãe e a esposa de Adriano em seu gabinete. Quando Adriano foi morto, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) o chamou de “herói”. Além disso, Lessa residia no mesmo condomínio que o ex-mandatário, e os filhos de ambos chegaram a namorar.
O ex-PM também confirmou que recebeu ajuda de Bolsonaro no final de 2009, embora afirme que mal o conhece. Após perder parte da perna esquerda na explosão de uma bomba em seu carro, ele alega que Bolsonaro, então deputado federal, intercedeu para que seu atendimento fosse priorizado na Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR), no Rio de Janeiro.
“Bolsonaro era patrono da ABBR. Quando soube o que aconteceu, interferiu. Ele gosta de ajudar a polícia porque é quem o botou no poder. Podia ser qualquer outro policial”, disse o ex-PM. Na época, ele trabalhava como segurança do bicheiro Rogério de Andrade.
Famílias Bolsonaro e Brazão
Chiquinho Brazão no palanque por Bolsonaro junto de Flávio em 2022. Foto: reprodução
A proximidade e as semelhanças entre os Bolsonaros e a família Brazão são ainda mais evidentes. Ambas são famílias políticas que conquistam vários cargos simultaneamente, atuando historicamente na zona oeste do Rio de Janeiro e mantendo fortes vínculos com a milícia local.
Flávio Bolsonaro e Chiquinho Brazão foram vistos juntos em uma carreata eleitoral em apoio à candidatura de Jair Bolsonaro em 2022. Além de colaborarem em campanhas políticas, Flávio e Chiquinho estiveram envolvidos em negócios imobiliários associados às milícias na zona oeste do Rio de Janeiro.
Ambos compartilham o interesse pela especulação imobiliária irregular na região. Documentos do Ministério Público do Rio de Janeiro revelaram que Flávio Bolsonaro utilizou recursos provenientes da prática de rachadinha em seu gabinete para financiar a construção ilegal de edifícios pelas milícias.
Queiroz, então chefe de gabinete de Flávio Bolsonaro e próximo de Lessa e Nóbrega, desviava 40% dos salários dos funcionários do gabinete para repassar ao Escritório do Crime. Conforme as investigações, os lucros obtidos com a venda dos imóveis seriam compartilhados com Flávio Bolsonaro.
Essa investigação do Ministério Público foi o motivo que levou Bolsonaro a pressionar o ex-ministro Sergio Moro pela substituição do comando da Polícia Federal no Rio e em Brasília.
Vale destacar que os negócios imobiliários irregulares nessa mesma região do Rio de Janeiro foram o motivo do assassinato de Marielle. A ex-vereadora representava um obstáculo para aqueles que lucravam com a especulação imobiliária ilegal.
Embora não haja evidências do envolvimento de Flávio Bolsonaro no crime, é fato que ele seria um dos beneficiários. Assim como os irmãos Brazão, ele lucraria com a venda dos edifícios construídos com recursos públicos provenientes de seu gabinete.