Pedro Ivo / Agência O DIA
Rio - Como já é tradição no Carnaval carioca, o
centenário bloco do Cordão do Bola Preta promete lotar as ruas do Centro
do Rio para o seu 105º desfile, na manhã deste sábado (10). A
concentração para a festa começa às 8h, na Rua Primeiro de Março e,
segundo a organização, espera-se um público ainda maior que em 2023, que
contou com 1 milhão de foliões.
Neste ano, o Bola Preta vai levar as ruas o tema
"Cuidar é Amar", ressaltando a importância da preservação do meio
ambiente e levantando a bandeira da sustentabilidade. A responsabilidade
com a preservação da natureza não vai ficar somente nas palavras — pela
primeira vez, o bloco fará compensação de carbono, com medição da
quantidade de emissão de gases poluentes dos trios elétricos ao longo do
desfile que será compensado com plantio de árvores no Parque Lage, no
Jardim Botânico.
"O Bola Preta tem a obrigação de entrar nesse tema e
levar uma mensagem de respeito ao meio ambiente. Nós não podemos seguir
desrespeitando a natureza como estamos fazendo e queremos ajudar na
conscientização sobre importância da preservação do nosso planeta",
comentou Pedro Ernesto Marinho, presidente do bloco, ao DIA.
A programação prevista conta com 5h de muita folia,
onde a banda do Cordão da Bola Preta vai entoar clássicos do Carnaval de
rua como "Cidade Maravilhosa", "Allah-la-ô" e "Cachaça não é água",
além da tradicional "Marcha do Cordão da Bola Preta", entre muitas
outras.
"Nós temos uma missão de manter viva a tradição do
Carnaval da cidade. Esta é uma das razões de estarmos com 105 anos e
ainda sermos importantes no cenário nacional. Se a gente entrar na
modernidade, vamos perder a nossa essência. Nós temos um compromisso com
a tradição e somos muitos fiéis a isso", reforçou Pedro Ernesto.
A foliona Juvanete Pereira da Silva, de 56 anos, frequenta o bloco há mais de 10 anos e relatou ao DIA
sobre a sua expectativa para mais uma edição. "Espero que seja um
evento único, de muita paz e a animação de sempre. Espero ouvir as
tradicionais marchinhas dos carnavais que deixaram saudade", comentou a
advogada.
Considerada "musa das musas" do bloco, Selminha
Sorriso se sente honrada em fazer parte da história da centenária
celebração. Apesar de adorar participar da folia, ela não estará
presente nesta edição. Isso porque a porta-bandeira da Beija-Flor vai
desfilar no domingo (11) pela escola.
"É impossível chegar no bloco e não se jogar, não
interagir com os foliões. Então, com o coração muito apertado, não vou
poder desfilar pois preciso me concentrar. Mas estarei presente de alma e
coração", comentou a musa, que ainda mandou um recado aos foliões:
"Desejo que todo mundo se divirta, se jogue e curta tudo com paz, sem
violência."
Apesar do desfalque, a "Corte Real do Bola Preta"
terá a estreia de uma nova musa. A Rainha do Carnaval de 2022, Thai
Rodrigues, vai desfilar pela primeira vez e ressaltou a energia positiva
do bloco.
"Estou com uma expectativa muito boa. Eu era foliona
do Bola Preta, e sempre sonhei em um dia estar lá em cima do bloco",
comentou a professora de dança, de 32 anos, que completou: "o samba é
algo transformador. Neste momento que estamos passando, o Bola é
importante para trazer alegria, com bastante cultura para todos as
pessoas que vierem apreciar a maior festa a céu aberto do mundo."
Bloco Bola Preta espera um público de mais de um milhão de foliões neste sábado
Pedro Ivo / Agência O DIA
O desfile está marcado para começar às 9h, com a
folia passando pela Rua Primeiro de Março, em frente ao número 66, e
seguindo até o prédio do Ministério da Justiça, na Avenida Presidente
Antonio Carlos, onde a festa será encerrada.
Bloco mais antigo do Carnaval carioca
Fundado
em 31 de dezembro de 1918, o Cordão do Bola Preta completou 105 anos no
final de 2023 e é o bloco mais antigo em atividade no Brasil. Sendo o
último remanescente dos cordões carnavalescos do início do século XX,
atravessou décadas se dedicando a preservar as músicas de Carnaval, como
marchinhas e sambas-enredos.
Durante todos esses anos, o Bola Preta resistiu a
duas pandemias e guerras mundiais, além de mudanças de regime e períodos
de censura.
Além de ter sido palco de lançamentos de centenas de
marchas e sambas tradicionais no cenário nacional, também revelou
grandes cantores e compositores como Pixinguinha, Mário Lago, Jamelão,
Alcione, Neguinho da Beija Flor e muitos outros.
Sempre arrastando multidões, o desfile atingiu a
marca de mais de 2 milhões de foliões em 2013, que ocuparam boa parte da
Avenida Rio Branco, na Região Central.
*Reportagem do estagiário João Pedro Bellizzi, sob supervisão de Raphael Perucci