A informação foi veiculada à época, dentre outros veículos, em matéria da CNN, que em seu enunciado dizia: “As Forças Armadas apresentaram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um documento sigiloso contendo suas demandas para o aperfeiçoamento da urna eletrônica que será utilizada nas eleições de 2022”.
A partir daí, os militares passaram a fustigar o presidente do TSE com cobranças e suspeições, sempre veiculadas pela mídia, de modo a fomentar e ampliar para a sociedade – visto que a instituição gozava de credibilidade –, dúvidas a respeito da lisura do sistema eleitoral no Brasil. Ainda na matéria da CNN, se lia:
“Segundo fontes que acessaram o documento, foram feitas diversas perguntas à Justiça Eleitoral divididas entre questões procedimentais e técnicas.
Nos bastidores, as Forças Armadas têm questionado a vulnerabilidade da urna eletrônica. O melhor exemplo disso foi que ela se recusou a participar dos testes da urna ocorridas no final de novembro.
Podemos afirmar, sem medo de errar, que esses questionamentos alimentados com notícias semanais sobre idas e vindas desse questionário e outras pontuações, contribuíram para a formação das hordas de crédulos sobre “problemas nas urnas”. Daí para a formação dos verdadeiros batalhões de fanáticos embrulhados em bandeiras nacionais e fantasiados com a aziaga camiseta verde e amarela foi um passo. E isso não é um exagero.
Não por acaso os comandos toleraram nas portas dos quartéis a presença, em suas cercanias, desses inconformados, depois que todas as manobras junto ao TSE resultaram infrutíferas. A eleição se fez e deu a vitória a Luiz Inácio Lula da Silva. O mesmo que as Forças Armadas nunca suportaram, alegando em suas conversas reservadas que – de acordo com Sergio Moro, o ídolo da milicada – Lula era “ladrão”. Não aceitariam, alegavam, nenhum fora da lei. Porém, não hesitaram em se unir ao “hacker de Araraquara”, Walter Delgatti, (o que fez a desgraça de Sergio Moro), para tumultuar o processo eleitoral, numa tentativa de barrar a chegada de Lula ao poder.
O que dizer agora, que tudo está vindo à tona? Continuar com o discurso de efeito, do “somos uma instituição de Estado”? Ou assumir que, sim, estiveram com os pés no golpe? Jamais virão a público confessar que apenas “engoliram” a vitória de Lula, após as tentativas fracassadas de tentar por todos os meios, impedir sua chegada à presidência. No momento em que os fatos são trazidos à luz – embora, ressalve-se, careçam ainda de provas materiais -, vai ficando difícil tirá-los do contexto da conspiração. Principalmente depois do “vazamento” do Inquérito Policial Militar (IPM) sobre o 8 de janeiro, em que deixam subentendido que o governo “falhou” em se proteger de um “golpe contra si mesmo”.
Não será mais possível evitar que os generais Marcos Freire Gomes e Júlio Arruda sentem no banco de testemunhas da CPMI que apura a eclosão de desvario contra o governo recém-empossado e os prédios públicos, impondo que fossem eles, os militares, chamados a “salvar a pátria”, sabe-se lá com que consequências. (Mais 21 anos de horror?).
A propósito, acrescente-se a esses nomes, o do general Paulo Sérgio de Oliveira, ex-comandante do Exército Brasileiro, que de modo insistente cobrou do TSE respostas às “perguntas técnicas” elaboradas a pedido deles, pelo hacker Walter Delgatti, e encaminhadas em nome da instituição que o general defende, sobre fraudes em urnas eletrônicas. Fraude, general, é o seu patriotismo. Não respeitar o rito da eleição não é um ato cívico.
Escrito por Denise Assis, jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".