São Paulo – Pastorais e movimentos sociais repudiaram a fala “desumana e leviana” do governador bolsonarista de Roraima Antônio Denarium (PP) sobre os Yanomami. Em entrevista nesta segunda-feira (30), ele afirmou que não existe desnutrição e que “… eles (os povos indígenas) têm que se aculturar, não podem mais ficar no meio da mata, parecendo bicho”. A manifestação já havia sido criticada ontem pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR) e a Hutukara Associação Yanomami (HAY).
Em nota divulgada nesta terça-feira (31), os signatários destacam a morte de 570 crianças de diversas comunidades impactadas pelas ações dos garimpeiros. E a crise humanitária que afeta também os jovens e adultos. “Denarium sancionou duas leis em apoio ao garimpo em Roraima, em meio ao avanço na piora da saúde Yanomami. Portanto, é responsável por essa crise humanitária. É responsável pelo genocídio Yanomami!”, dizem, em trecho do documento.
As
organizações se referem a iniciativas que foram barradas pelo Supremo
Tribunal Federal (STF). A primeira, uma lei de fevereiro de 2021, de
iniciativa do próprio governador, que liberava todos os tipos de garimpo
no estado com uso de mercúrio independentemente de estudos prévios.
Essa substância química é um metal pesado usado para separar o ouro dos
sedimentos. Tóxica ao sistema nervoso central, causando doenças graves, é
também extremamente danosa ao meio ambiente.
Governador sancionou lei para proteger garimpeiros invasores
Em julho do ano seguinte, o governador cedeu a pressões de garimpeiros e até de um empresário local, investigado por dar apoio logístico ao garimpo na Terra Yanomami, e sancionou nova lei. Essa lei protegia o patrimônio de garimpeiros ilegais ao proibir agentes de fiscalização de destruir maquinários desses invasores.
As
entidades consideram os comentários do governador aliado do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) extremamente racistas, preconceituosos
e desumanos. Além de ser “uma falta de respeito e sensibilidade neste
momento, em que várias vítimas Yanomami estão morrendo por malária,
desnutrição aguda entre outras doenças que poderiam ter sido evitadas”.
Tal posição se torna ainda mais grave diante da situação em que se
encontram os povos indígenas de Roraima, em especial os Yanomami. Na
oportunidade, também denunciam Denarium e o ex-presidente Jair Bolsonaro
por violarem a Constituição Federal Brasileira e os direitos humanos.
Confira a íntegra da nota em favor dos Yanomami
NOTA DE REPÚDIO AO GOVERNADOR ANTÔNIO DENARIUM
Nós, das pastorais e dos movimentos sociais de Roraima, repudiamos o posicionamento na fala desumana e leviana do governador Antônio Denarium (PP), sobre o povo Yanomami, alegando que não existe desnutrição e que “…Eles têm que se aculturar, não podem mais ficar no meio da mata, parecendo bicho”. Diante da crise humanitária, levando a morte de 570 crianças de diversas comunidades impactadas diretamente pela prática de garimpo ilegal, Denarium sancionou duas leis em apoio ao garimpo em Roraima, em meio ao avanço na piora da saúde Yanomami, portanto, é responsável por essa crise humanitária. É responsável pelo genocídio Yanomami!
Os comentários, publicados em uma matéria de repercussão nacional, são extremamente racistas, preconceituosos e desumanos diante da tal situação e isso mostra um total desconhecimento por parte do governador da realidade dos povos indígenas em Roraima, sobretudo, os Yanomami. É uma falta de respeito e sensibilidade neste momento em que várias vítimas Yanomami estão morrendo por malária, desnutrição aguda entre outras doenças que poderiam ter sido evitadas. Os dados de várias entidades, como Fiocruz e ISA, apontam que as práticas ilegais do garimpo estão associadas a alto índice de malária na TI Yanomami.
O governador Denarium, assim como o ex-presidente Jair Bolsonaro, viola a Constituição Federal Brasileira e os direitos humanos quando não fez e não faz nada para impedir a invasão massiva de garimpeiros, muitos apoiados por uma rede de empresários locais e nacionais, ao contrário, só estimulou esse crime durante todo o seu primeiro mandato.
Exigimos que o governador de Roraima seja punido, conforme a lei, diante de tal ameaça ao povo Yanomami, pelo crime de genocídio.