Eram 14h45 quando jogaram a primeira pedra. Depois, foram mais duas horas de quebradeira diante dos olhos do ministro da Justiça, Flávio Dino, que conversou com o repórter Marcelo Canellas.
Canellas: Então o senhor assistiu de camarote aqui, com esse monte de janela atrás do senhor?
Flávio Dino:
Infelizmente, eu assisti. Com a graça de Deus, não tive um infarto, mas
cheguei perto. Porque, em primeiro lugar, a indignação; em segundo
lugar, imediatamente, a impotência; e em terceiro lugar, muita
atividade, muita ação, para poder dar conta das múltiplas situações,
porque inicialmente só eu estava aqui.
"Se tiver que dar tiro, dá tiro. Se tiver que meter a mão no pescoço... Não tem mais que ter dó".
"Festa da Selma" foi o código usado por grupos golpistas em trocas de mensagens, na conspiração para tomar o poder. À noite, na véspera do ataque, o acampamento bolsonarista estava lotado e nas primeiras horas do dia 8, mais pessoas continuavam chegando.
Às 13h, cerca de 4 mil pessoas se preparavam para deixar o local, em frente ao QG do Exército, em direção à Esplanada. Aos gritos, entoavam palavras de ordem golpistas, mas ao em vez de contê-los, a PM preparou uma escolta para o grupo e, em áudio enviado ao governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, o então secretário de Segurança Pública disse que o clima estava "bem tranquilo".
Segundo o ex-secretário de Segurança e professor da UNB, Artur Trindade, tudo estava totalmente fora do protocolo:
"Existem protocolos, vários protocolos - tanto em relação ao tamanho da manifestação quanto em relação ao grau de risco que ela envolve. Por que se abandonou o protocolo? Por que sabendo do tamanho da manifestação e do grau de risco que ela envolvia, o protocolo foi mudado? Foi mudando de maneira, eu diria, criminosa".
Nossa equipe também apurou que, no momento do ataque, não havia sentinelas da Guarda Presidencial nas guaritas. O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, vê mais indícios de conivência de gente de dentro do Palácio do Planalto:
"80%, 90% das pessoas só corriam e quebravam tudo, e tinha um grupo menor que sabia onde é que ia ir. Sabia onde era a sala de armas, sabia onde é que era o GSI, sabia onde é que era a Abin, sabia onde é que era a Secom. Então, enquanto uma turma corria e quebrava tudo, outros iam nos locais onde eles queriam ir".
O Gabinete de Segurança Institucional do Palácio do Planalto informou ao Fantástico que há militares do Exército sob investigação.
Ao todo, 1.843 pessoas foram detidas - 684 foram liberados e vão responder em liberdade. A Polícia Federal prendeu 1.159 pessoas.
Em nota, a Polícia Militar do Distrito Federal afirma que adotou protocolos para reforçar o policiamento preventivo na região central de Brasília. A PM diz que, antes da invasão, participantes foram presos pelo Batalhão de Trânsito porque tinham objetos como atiradeiras, bolas de gude e pedras.
A nota afirma ainda que, até o início da tarde do último domingo, eles se comportavam "de maneira colaborativa" e que, de repente, entraram em confronto com os policiais. Ainda segundo a PM do DF, centenas de pessoas foram detidas e dezenas de policiais militares ficaram feridos nos confrontos.
Também em nota, o Centro de Comunicação Social do Exército afirma que todos os fatos ocorridos no dia 8 que dizem respeito ao próprio Exército estão sendo apurados.
O Palácio do Planalto não informou quantos integrantes do Gabinete de Segurança Institucional e da Guarda Presidencial estavam no palácio no momento da invasão.
Já a defesa do ex-secretário de Segurança do DF Anderson Torres não
retornou nossas ligações e mensagens. Também não conseguimos contato com
o ex-secretário interino de Segurança, Fernando de Sousa Oliveira, e
com a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro.