A torcida do Vasco não pode comer sardinha e querer arrotar caviar. A revolta de parte dos cruzmaltinos nas redes sociais com a contratação do técnico Fabio Carille é uma tentativa de viver no mundo paralelo de concorrentes ricos como os vizinhos Botafogo e Flamengo. A escolha do presidente Pedrinho é realista e boa diante da dura realidade econômica de um clube à espera de um mecenas. Portanto, ficou melhor do que a encomenda depois das recusas de Renato Gaúcho, António Oliveira, Pedro Caixinha e Paulo Pezzolano.

O Gigante da Colina volta a ter um técnico com título brasileiro no currículo depois de quatro anos. O último havia sido Vanderlei Luxemburgo no período de 31 de dezembro de 2020 a 25 de fevereiro de 2021 naquele Brasileirão atípico devido à pandemia. Nem mesmo a parceira 777 Partners investiu em treinador com uma conquista na Série A.

Fábio Carille levou o Corinthians ao título do Campeonato Brasileiro em 2017. Tinha um time modesto na comparação com os concorrentes da época. O Palmeiras era a referência. O Flamengo começava a despontar como novo rico. O Grêmio incomodava, embalado pelo tricampeonato na Libertadores. Mesmo assim, Carille consumou a conquista antecipada do Timão na 35ª rodada. Ganhou o Campeonato Paulista na mesma rodada.

O escolhido pelo Vasco acaba de resgatar o Santos da Série B para a elite. Não arrancou suspiros, mas cumpriu a missão de devolver um gigante como o alvinegro praiano ao devido lugar. Apesar do descontentamento de parte da torcida, Carille resistiu até a conclusão da tarefa de colocar o Santos na primeira divisão.

Um erro grave de torcidas apaixonadas é deixar-se levar pela experiência de outros times e não a sua. A revolta dos santistas com Fábio Carille não significa necessariamente o insucesso do treinador em São Januário. O descarte no Athletico-PR em 2022 também não deve servir de parâmetro. Celso Petraglia demitiu Carille com 21 dias de trabalho. O estilo de gestão do poderoso-chefão explica o rebaixamento do Furacão para a Série B.

O novo dono da prancheta desembarca no Rio com uma característica necessário ao Vasco: segurança defensiva. O time sofreu 56 gols no Brasileirão de 2024. O Corinthians de 2017 do Fábio Carille foi vazado 30 vezes na campanha do título brasileiro.

Os times de Fábio Carille costumam ser organizados taticamente. Foi auxiliar do técnico Tite e segue a cartilha do velho mestre. Isso pode ajudá-lo a restaurar Philippe Coutinho e transformá-lo em maestro do time na próxima temporada. Detalhe: em 2017, o Corinthians foi campeão brasileiro com dois meias: Jadson e Rodriguinho. Vai que cola Coutinho e Payet juntos! Quem teve Jô na campanha do título brasileiro de 2017 contará com Pablo Vegetti no elenco em 2024.  O desafio de Carille não é fácil, mas o estilo dele aparenta se encaixar com a necessidade do Vasco.