A morte do Papa Francisco, ocorrida nesta segunda (21), trará à tona um dos rituais mais emblemáticos da Igreja Católica Apostólica Romana: o conclave — o procedimento de escolha do novo sacerdote que ocupará o posto mais elevado da Igreja. Esse processo, que inclusive inspira o filme indicado ao Oscar Conclave, dirigido por Edward Berger, é caracterizado por etapas rigorosamente estabelecidas, compromisso absoluto com o sigilo e pela tradicional cerimônia da fumaça.
Com raízes que remontam a séculos passados, o conclave só foi assumindo seu formato atual — com maior proteção contra influências externas — a partir do século XX. A escolha do novo Papa ocorre na Capela Sistina, completamente isolada do mundo exterior. É da sua chaminé que sai a fumaça preta, indicando que ainda não houve uma decisão, ou a fumaça branca, que comunica ao mundo que um novo Pontífice foi eleito.
Esse período de transição, quando um Papa morre ou renuncia, é conhecido como Sé Vacante. Durante esse intervalo, a administração da Igreja e os assuntos do Vaticano ficam sob responsabilidade do Colégio de Cardeais e do Camerlengo. Paralelamente, os cardeais participam das reuniões pré-conclave, nas quais são definidos o calendário e os detalhes práticos do processo. O atual decano do Colégio de Cardeais, Giovanni Battista Re, é quem lidera essas reuniões.
Após todos os trâmites iniciais, os cardeais se preparam para um regime de completo isolamento. A partir do início do conclave, ficam proibidos de utilizar telefone, internet, televisão, jornais ou qualquer outro meio de comunicação. Durante esse período, permanecem hospedados na Casa de Santa Marta, também selada, assim como a Capela Sistina.
No dia do início da eleição, os cardeais participam de uma missa solene na Basílica de São Pedro, intitulada “Pro eligiendo Pontifice”. Em seguida, seguem em procissão até a Capela Sistina entoando a oração “Litania sanctorum” (a Ladainha de Todos os Santos), finalizando com o cântico “Veni, Creator Spiritus”, que invoca a presença do Espírito Santo e dos santos, enquanto ocupam seus lugares diante do afresco Juízo Final, de Michelangelo, que adorna o altar.
Nesse momento, cada cardeal presta um juramento solene de confidencialidade — cuja violação pode levar à excomunhão — e também promete não se deixar influenciar por pressões externas.
Bandejas nas quais são depositados os votos dos cardeais para o futuro Papa. Reprodução
Dois terços dos votos
Após o juramento, o responsável pela cerimônia declara “Extra omnes” (“todos para fora”), e todos os que não fazem parte da eleição deixam a capela. Um cardeal então faz a leitura sobre os atributos e os desafios que devem guiar a escolha do novo Pontífice. Apenas os cardeais eleitores, além de alguns poucos oficiais essenciais, permanecem no recinto.
O número de cardeais com direito a voto pode chegar a 120. Atualmente, existem 252 cardeais, dos quais 138 estão aptos a votar (os que têm menos de 80 anos).
Para que um nome seja escolhido, é necessário que ele receba dois terços dos votos. Se não houver consenso no primeiro dia, o conclave continua com quatro votações diárias — duas pela manhã e duas à tarde. Caso a decisão ainda não seja alcançada após três dias, há uma pausa para oração antes que o ciclo de votações seja retomado.
Durante cada votação, os cardeais anotam sua escolha em uma cédula com a frase “Eligo in summen pontificem” (elejo o Sumo Pontífice). Aproximam-se do altar individualmente e proclamam: “Convoco como minha testemunha Cristo, o Senhor, que será o meu juiz, de que meu voto é dado àquele que, diante de Deus, eu acredito que deva ser eleito”.
Nove cardeais são escolhidos por sorteio para funções específicas: três integram a mesa de votação, três recolhem votos quando necessário e os demais supervisionam todo o processo.
Ao final de cada votação, as cédulas são costuradas com uma agulha através da palavra “eligo”, formando um cordão, e em seguida queimadas com compostos químicos que geram a fumaça — preta ou branca, conforme o resultado.
Uma vez eleito, o novo Papa é questionado se aceita o encargo e, caso aceite, escolhe seu nome papal ainda durante o conclave. Ele então é apresentado aos fiéis reunidos na Praça São Pedro com o tradicional anúncio: “Annuntio vobis gaudium magnum: Habemus Papam” (Com grande alegria, anuncio que temos um Papa), encerrando oficialmente o processo.