Pomar rejeitou a ideia de que a imprensa hegemônica apenas normaliza a presença de Bolsonaro no debate público. Para ele, trata-se de um papel ativo de sustentação: “o cavernícola cumpre um papel útil para o setor gourmet do grande capital. Ele expressa o ponto de vista de um pedaço grande da classe dominante, dos latifundiários, dos banqueiros. Não tenho dúvida”. Ao comentar o destaque contínuo dado ao ex-presidente, mesmo após investigações que evidenciam sua responsabilidade na articulação de uma conspiração golpista, o historiador afirmou: “por uma parte da classe dominante, o Bolsonaro é um líder; a outra parte usa ele como um bode na sala”.
A expressão resume, segundo Pomar, o uso político que setores empresariais e da mídia fazem da figura de Bolsonaro como ameaça permanente. “A pressão da extrema direita vira um argumento para um pedaço da esquerda aceitar qualquer coisa. É uma chantagem: aceitem o déficit zero ou a gente solta o cavernícola”, disse. Essa operação seria conduzida, em sua avaliação, tanto por agentes da velha mídia como por representantes do capital financeiro. “Esses caras — os donos da Globo, do Estadão, da Folha, da Zero Hora — fazem parte do clube dominante. Têm interesses públicos e não tão públicos assim que fazem eles insistirem em manter essa coisa acesa”, declarou.
Ao traçar uma linha histórica, Valter Pomar lembrou que o apoio da mídia tradicional à ditadura militar foi decisivo para a consolidação do seu poder e da própria estrutura de comunicação que se mantém no Brasil. “A ditadura fez 61 anos e a Globo fez 60. Não tem coincidência nenhuma. Esses caras se tornaram o que se tornaram com o apoio da ditadura militar”, afirmou. Ele ainda destacou que essa mesma mídia teve papel central na perseguição ao Partido dos Trabalhadores. “É só lembrar do que fizeram contra o PT lá atrás, na Ação Penal 470, depois na Operação Lava Jato. Quando vi a história do triplex do Lula, lembrei que essa notícia foi publicada no jornal Estado de S. Paulo nos anos 1980. É inacreditável a falta de memória dessa turma”.
Pomar defende que a existência de monopólios e oligopólios da comunicação fere princípios constitucionais. “A Globo é anticonstitucional. Está lá na Constituição: não pode haver monopólio. Hoje temos um oligopólio. Esses caras não deveriam existir”, afirmou. Para ele, a única maneira de reverter esse quadro é com o fortalecimento de uma comunicação pública, estatal e também privada, mas diversa. “Não pode ser monopólio. Porque, na hora que vira monopólio, o instrumento que esses caras têm para incidir na vida política se torna insuportável. Viram um partido político, só que não são. E não podem funcionar como tal”, disse.