"Não há dúvida que é um péssimo sinal", afirmou Nobre ao comentar o aumento constante das temperaturas nos últimos meses. Ele lembrou que a meta inicial da ciência era manter a elevação da temperatura global abaixo de 1,5ºC até 2050, o que agora parece uma tarefa cada vez mais difícil. De acordo com o cientista, a contínua ascensão das temperaturas pode resultar em um cenário ainda mais desastroso, caso as metas de redução de emissões não sejam atingidas de forma eficaz e célere.
Nobre alertou sobre o risco de não se cumprir os objetivos do Acordo de Paris. “Se a temperatura continuar a subir e a ciência, daqui a alguns anos, falar 'já atingimos 1,5ºC', aí nós vamos ter que acelerar demais a redução das emissões. Porque, se a gente continuar com as metas do Acordo de Paris, zerar as emissões líquidas só em 2050, nós vamos chegar a 2,5ºC ou mais em 2050. Isso seria catastrófico para o clima global”, explicou.
Em um cenário de inação, o cientista destacou que a mudança climática não é apenas uma questão ambiental, mas também uma questão financeira e política. Durante a COP 29, os países em desenvolvimento pediram 1,3 trilhões de dólares para mitigar as emissões até 2035 e outros 500 bilhões por ano para melhorar a adaptação dos países mais vulneráveis aos efeitos dos desastres climáticos. Contudo, os países desenvolvidos não aceitaram essas exigências, limitando suas contribuições a apenas 300 bilhões de dólares.
A situação foi ainda mais complicada com a recente retirada dos Estados Unidos do acordo climático, o que ampliou a responsabilidade das nações ricas em termos de financiamento. Nobre fez um lembrete crucial: “Os Estados Unidos, historicamente, emitiram 20% de todos os gases de efeito estufa nas últimas décadas. Isso torna ainda mais difícil a ação global.”
Com um cenário desafiador à frente, o cientista ressaltou a urgência de encontrar soluções que contemplem tanto a mitigação das emissões quanto a adaptação aos impactos já inevitáveis das mudanças climáticas. O futuro do planeta depende da ação rápida e coordenada entre as nações, um desafio que, segundo Carlos Nobre, é sem precedentes na história da humanidade. Assista: