Parte importante desse crescimento econômico foi atribuída às políticas públicas de transferência de renda, como o Bolsa Família e o BPC. “Essas iniciativas garantiram um impulso significativo à atividade econômica, especialmente entre as camadas mais pobres, que gastam 100% da renda recebida”, explicou Gala. O economista também destacou a Nova Política Industrial Brasileira (NIB) e as iniciativas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como motores de estímulo ao setor produtivo.
Segundo o estudo realizado pelo BNDES sobre o comportamento do PIB do 3T/2024, o banco avaliou que o desempenho reflete a resiliência da economia brasileira, impulsionada por fatores como antecipação de precatórios e benefícios sociais, políticas de estímulo fiscal, um mercado de trabalho aquecido e a melhora nas condições de crédito e mercado de capitais. Esses elementos sustentaram tanto o consumo das famílias quanto os investimentos, contribuindo para um crescimento mais robusto do que o observado nos últimos anos. O investimento (medido pela formação bruta de capital fixo – FBCF) também teve contribuição positiva (+0,4 p.p.) ao resultado do PIB, com crescimento de 2,1% no 3T/2024 em relação ao 2T/2024, feito o ajuste sazonal.
Fonte: BNDES
Ainda de acordo com o estudo do BNDES, disponível na biblioteca digital do banco, mostra que o setor de serviços foi o principal motor do crescimento, com uma alta de 0,9% no trimestre e acumulando 25,1% de expansão desde o terceiro trimestre de 2020. A indústria, por sua vez, teve contribuição modesta, com desempenho positivo na manufatura, mas retração em áreas como construção e utilidades públicas. No lado da demanda, o consumo das famílias se destacou, com crescimento de 1,5% no trimestre, sustentado por renda em alta e políticas sociais. Os investimentos também apresentaram expansão significativa, especialmente na produção de bens de capital.
Manter o crescimento com sofisticação produtiva
Para garantir um crescimento sustentável sem pressão inflacionária, o economista Paulo Gala enfatizou que, sem avanços na sofisticação produtiva e na inovação, o Brasil pode atingir um limite de crescimento sustentável. “Chegamos ao pleno emprego e utilizamos a capacidade econômica de maneira intensa, mas é preciso transformar a estrutura produtiva para evitar uma barreira inflacionária.”
Segundo Gala, o próximo passo para o desenvolvimento do Brasil envolve a produção de bens e serviços mais complexos e de maior valor agregado. Ele citou exemplos de empresas como Embraer, WEG e Petrobras, mas defendeu a ampliação dessa base. “Apenas estimular a economia não será suficiente. Precisamos de uma indústria que seja competitiva no mercado internacional e que crie empregos mais qualificados e melhor remunerados”, avaliou.
O Nordeste, com seu potencial em energia limpa, foi citado como uma região estratégica para essa transformação. “A transição energética pode ser a catapulta para uma industrialização verdadeira no Nordeste, que ainda apresenta índices baixos de complexidade econômica e industrialização per capita”, destacou.
Para Gala, o crescimento econômico atual é pré-condição para os avanços necessários. “Nenhum empresário investe em um cenário de economia desaquecida. O que foi feito até agora é fundamental, mas os próximos passos precisam incluir políticas de inovação e de fortalecimento da indústria”, alertou. O economista concluiu que o momento exige coordenação entre governo e iniciativa privada para promover mudanças estruturais. “É a parte mais difícil do desenvolvimento, mas indispensável para que o Brasil alcance um patamar de maior prosperidade.”
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