Desde a fundação da República do Brasil, as pensões militares têm sido um tema de debate e, muitas vezes, controvérsia. Criado pelo Decreto nº 695, de 28 de agosto de 1890, o montepio militar foi uma das primeiras formas de previdência oficial no país, garantindo segurança financeira às famílias de militares em caso de falecimento. No entanto, ao longo dos anos, o sistema se transformou, dando lugar às pensões militares, que hoje geram questionamentos devido às acusações de irregularidades e fraudes, causando prejuízos milionários aos cofres públicos.
Segundo um levantamento feito pelo Metrópoles, dados do Exército Brasileiro e da Marinha apontam que as fraudes em pensões militares já somaram mais de R$ 54 milhões em prejuízos nos últimos anos. A Força Aérea Brasileira (FAB), que também administra o benefício, se recusou a fornecer informações detalhadas, dificultando uma análise mais completa do impacto.
Investigações conduzidas pelo Ministério Público Militar (MPM) e auditorias internas apontam que, em muitos casos, irregularidades como falsificação de documentos, saques indevidos após a morte do beneficiário e fraudes em provas de vida foram responsáveis pelos desvios.
Uma prática comum identificada é a continuação do saque dos valores após o falecimento do pensionista, feita por familiares ou terceiros. De acordo com o promotor militar Mário Porto, o tempo de atualização do sistema pode chegar a um ano, criando brechas para o cometimento dessas fraudes.
Um dos casos mais emblemáticos foi registrado no Piauí, onde a filha de uma viúva do Exército usou uma “sósia” para continuar recebendo a pensão da mãe por 17 anos após sua morte. A fraude foi descoberta em 2013, quando a sósia faleceu e a responsável tentou utilizar outra pessoa para perpetuar o esquema. O prejuízo foi estimado em R$ 230 mil, e a responsável foi condenada pelo Superior Tribunal Militar (STM).
Outro caso marcante envolveu a FAB, em que uma mulher se casou com seu sogro, um tenente da reserva remunerada diagnosticado com esquizofrenia, para receber sua pensão como viúva. Após o falecimento do militar, ela manteve um relacionamento com o filho dele enquanto recebia os valores indevidamente. A fraude, descoberta cinco anos depois, resultou em um prejuízo superior a R$ 360 mil.
Apesar das fraudes, o promotor Mário Porto destaca que elas representam um percentual pequeno em relação ao universo total de pensionistas. Ainda assim, os números são expressivos o suficiente para levantar questionamentos sobre a eficácia dos mecanismos de controle. O Tribunal de Contas da União (TCU) já cancelou 448 pensões militares desde 2014, mas a lentidão na comunicação de óbitos e a falta de integração entre os sistemas continuam sendo desafios para a fiscalização.
O promotor sugere que mudanças na legislação poderiam ajudar a mitigar os problemas. Uma proposta seria incluir nos registros de óbito informações sobre a condição de pensionista, permitindo que cartórios notifiquem automaticamente as Forças Armadas.