Um relatório da Polícia Federal revelou que militares brasileiros utilizaram sites estrangeiros para disseminar informações falsas sobre as urnas eletrônicas durante as eleições de 2022. A estratégia visava evitar sanções do então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, que já havia ordenado a remoção de conteúdos semelhantes em território nacional.
A operação teria contado com a colaboração do consultor argentino Fernando Cerimedo, indiciado pela PF e conhecido por seu envolvimento na campanha presidencial de Javier Milei em 2023. Segundo a investigação, Cerimedo promoveu, em novembro de 2022, uma live intitulada “Brazil Was Stolen” (O Brasil foi roubado, em tradução livre), publicada no site argentino “La Derecha Diario”.
A transmissão apresentava uma suposta análise que questionava a integridade das urnas eletrônicas, especialmente comparando modelos antigos e novos.
O relatório indica que o conteúdo divulgado por Cerimedo estava alinhado a informações defendidas por oficiais como o tenente-coronel Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros e Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.
Arquivos encontrados no celular de Mauro Cid mostram que ele recebeu links relacionados à live, acompanhados da hashtag #BrazilWasStolen, e que o material foi compartilhado pelo tenente-coronel Marques de Almeida, lotado no Comando de Operações Terrestres (Coter).
Para driblar ordens judiciais de remoção de conteúdo, Marques de Almeida teria atualizado os links e usado hospedagens em países como Argentina e Portugal. Mensagens recuperadas pela PF indicam que ele também oferecia arquivos em formato MP4, caso os sites fossem derrubados.
O argentino Fernando Cerimedo é um dos 37 indiciados pela trama golpista. Foto: reprodução
As ações incluíram a criação de um site específico, hospedado em Portugal, que reunia as supostas provas da fraude eleitoral. Em mensagens analisadas, Marques elogiava o trabalho de sua equipe: “Nosso time é bom demais, incrível. Esse está hospedado em Portugal. O site que estava no Brasil foi derrubado”.