Charge de Aroeira
São Paulo – Diante de mais uma tentativa de cerco ao governo Lula, a Campanha Tributar os Super-Ricos denuncia o papel da imprensa tradicional. Os principais jornais do país, por exemplo, fizeram lobby pela manutenção da taxa básica de juros em 10,5%, como acabou decidindo o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC).
A justificativa da imprensa para os juros elevados é uma suposta crise fiscal, pressionando o governo por corte de gastos. O que a imprensa finge ignorar, no entanto, é fato que cada ponto percentual a menos na taxa Selic representa R$ 41,4 bilhões de redução na dívida bruta do país. Ou seja, os juros altos são causa da piora do quadro fiscal, e não consequência.
Ao mesmo tempo, esses mesmos setores da imprensa defendem a alegada “autonomia” do BC. A realidade, mais uma vez, trata de desmentir. Isso porque, na semana passada, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ofereceu um jantar em homenagem a Campos Neto. Trata-se de um dos principais expoentes da oposição bolsonarista. Não bastasse isso, Campos Neto teria afirmado que aceita ser ministro da Fazenda na hipótese de Tarcísio alcançar a presidência.
Nesse sentido, o presidente do BC é um dos principais porta-vozes da suposta crise fiscal do país. Por outro lado, os empresários – bem como seus representantes no Congresso e na mídia – resistem em contribuir com o equilíbrio fiscal do país. A revisão das desonerações e outras medidas para aumentar a arrecadação sofrem intenso tiroteio. O objetivo, como sempre, é tentar induzir cortes em políticas sociais que beneficiam a maioria mais pobre.
A imprensa é dos super-ricos?
Diante desse quadro, as mais de 70 organizações sociais, entidades e sindicatos que compõem a Campanha Tributar os Super-Ricos questionam: “Qual o papel da imprensa para auxiliar um país? Atender os interesses da população, da cidadania ou escamotear e defender os super-ricos? Metade da riqueza do país está na mão de 1% da população que dá a linha aos donos dos jornais”.
“Defendem a supremacia do ‘mercado’, dos rentistas… Pra convencer o povo que isto é certo! Defendem o tal do Banco Central ‘independente’ que defende o capital financeiro ao invés baixar os juros para ajudar a economia e toda a gente! Saúdam juros altos, equilíbrio fiscal, benefícios fiscais a quem já tem muito ao invés de investimentos sociais, penalizar quem destrói a natureza”, diz a Campanha em postagem nas redes sociais.
Enquanto isso, a reforma tributária tem dificuldade para avançar no Congresso Nacional. O governo pressiona para que a votação dos projetos de regulamentação da reforma sobre o consumo ocorra ainda antes do recesso parlamentar. A conclusão da matéria abriria espaço para a discussão da reforma sobre a renda e o patrimônio, urgente em um país tão desigual.
“Os ricos já tem um Congresso quase inteiro a seu dispor. A imprensa bem que poderia ser mais cidadã ao invés de servir ao capital”, lamenta a campanha. “E quando convém, atacam a democracia e participam de golpes para defender os super-ricos…”