"Normalmente você acorda de manhã, fica nervoso porque as coisas não estão dando certo, e você começa a dizer ‘esse Lula não presta, esses deputados não prestam, esses ministros não prestam, eles só roubam e não trabalham’. Tem dias que vocês acordam assim e eu sei, porque eu já acordei assim muito tempo, já fui jovem, já fui adolescente, criança, e hoje sou um jovem maduro, de cabelos brancos. Então deixa eu dizer para vocês para nunca esquecerem: quando vocês levantarem de manhã e estiverem p*tos com a política, quando você não acreditar em ninguém aqui, mesmo quando você estiver assim, não desacredite da política. O político honesto, trabalhador, decente, inteligente que você deseja possivelmente está dentro de você. Então assuma a sua responsabilidade política e seja o político que você quer que o Brasil tenha. Se você assumir a sua tarefa, você percebe que pode chegar lá", afirmou.
Ao longo da fala, o presidente também condenou a violência praticada contra a população negra, citando até mesmo o jogador de futebol Vinícius Júnior, que vem sofrendo reiteradamente racismo nos jogos pelo clube em que atua, o Real Madrid, na Espanha. "Todos os dias pessoas negras são vítimas de múltiplas violações de direitos, em um contexto de vulnerabilidades que nós, poder público e sociedade, não podemos aceitar. Enquanto estamos aqui reunidos, em algum canto do país há uma pessoa negra sofrendo agressões verbais e físicas, única e exclusivamente por conta da cor da sua pele; ou pior, confundida com bandido e sendo executada a sangue frio, ou então vítima de uma bala perdida, que quase sempre encontra um corpo negro em seu caminho e que tantas vezes mancha de sangue um uniforme escolar. Não podemos achar normal. Não podemos assistir apáticos ao extermínio da juventude negra desse país. Queremos nossos jovens vivos, com acesso a todas as oportunidades a que eles têm direito. Queremos um país com mais justiça social, menos desigualdade e sem nenhum tipo de discriminação".
"O racismo e suas consequências perversas, que nossa sociedade resiste tanto a reconhecer, se revela todos os dias nos mais diversos ambientes, em programas de TV, nas empresas, nas escolas, nos espaços de lazer, nos estádios de futebol e nas ruas. Nós, todo sábado ou domingo, assistimos um dos jogadores de futebol brasileiro mais importantes no mundo, que joga no time mais importante do mundo, o Real Madrid, o jovem Vini Júnior, ser acusado, difamado e achincalhado dentro dos estádios na Espanha, que é um país considerado rico, civilizado, mas que a questão do racismo ainda parece que não saiu da cabeça de uma sociedade branca que tem a ideia fixa de que a supremacia é branca e que o negro é de segunda classe. (...) Não por acaso é preta a cor da maioria dos encarcerados no país. Muitos deles posteriormente declarados inocentes, mas para sempre marcados pelo preconceito e pela dor que só quem é vítima reconhece. Desde sempre é assim, herança trágica de três séculos de escravidão", complementou.
Sobre o plano, Lula afirmou que "é mais do que um compromisso de avançar na execução de políticas que enfrentem as vulnerabilidades sociais e a violência que dizima nossa juventude". "O que estamos apresentando são ações concretas para aperfeiçoar o que já foi feito até aqui, para assegurar que a juventude negra viva em plenitude, sem estar sempre exposta a carências, violências e injustiça. Que tenha acesso à educação, saúde, cultura, segurança, lazer, emprego de qualidade, remuneração justa e todas as oportunidades para viver melhor e com mais dignidade. As ações do Plano Juventude Negra convergem para todos esses objetivos. São ações essenciais para a proteção da vida".
O presidente também cobrou que a própria juventude faça a divulgação do programa. "Quando vocês se reunirem para falar mal do Lula, não tem problema, falem mal, mas lembrem que nós lançamos o Plano Juventude Negra Viva e que vocês têm a responsabilidade de fazer esse programa dar certo. Se depender da nossa gloriosa imprensa democrática, vocês não saberão do programa. Vai depender muito de vocês. E o governo tem que fazer com que as pessoas recebam onde moram o que é o programa, uma explicação, para que todo mundo entenda o que estamos lançando. Se não, a política não funciona".
O Plano Juventude Negra Viva (PJNV) é o maior pacote de políticas públicas para a juventude negra da história do país, com um investimento de mais de R$ 665 milhões. O PJNV terá iniciativas nas áreas de segurança, educação, saúde, assistência social, esporte e meio ambiente, entre outras. O objetivo é construir ações transversais para a redução da violência letal e outras vulnerabilidades sociais que afetam essa parcela da população. O Plano foi desenvolvido a partir da escuta ativa com mais de 6 mil jovens, de todos os 26 estados brasileiros e do Distrito Federal, durante todo o ano de 2023.
A política é a resposta do Governo Federal a uma das principais demandas da população negra: viver em um país que respeita e investe na vida dos jovens negros — que hoje representam aproximadamente 23% da população brasileira. O PJNV está estruturado em 11 eixos de transversalidade. Cada eixo tem metas específicas e ações que integram os diversos órgãos afins, no intuito de promover mudanças estruturantes e duradouras na vida da juventude negra. No total, são 43 metas e 217 ações pactuadas com 18 ministérios. O montante de investimento, considerando ações que englobam a juventude negra (mas que não são exclusivas para este público), ultrapassa R$ 1,5 bilhão.
O PJNV terá a aplicação projetada em 12 anos, com a previsão de avaliação e renovação a cada quatro anos. Além disso, governadores estaduais poderão aderir ao Plano, firmando o compromisso com a juventude negra em seus territórios e apontando, com efeito, suas localidades prioritárias para o governo brasileiro executar as políticas nacionais para este público.