Walisson dos Reis Pereira, 35 anos, é um advogado que luta contra a violação dos direitos de pessoas em vulnerabilidade social. Abandonado pelos pais e criado pelos avós no interior de Minas Gerais, é uma inspiração pela sua história de superação.
"Com 17 anos, vim para Brasília em busca de condições melhores", comenta o advogado. Porém, sem condições de arcar com os custos de moradia, Walisson morou na Rodoviária do Plano Piloto enquanto terminava os estudos no colégio e estudava para o vestibular. "Um professor chegou a me expulsar de sala por eu estar com um odor ruim". O jovem frequentava bibliotecas públicas com o objetivo de ingressar em uma faculdade.
Depois de estudar por dois anos, Walisson entrou para a faculdade de direito na União Pioneira de Integração Social (UPIS), e conseguiu deixar as ruas, fazendo bicos e entregando panfletos. "Sofri inúmeras injustiças em minha vida, que me serviram de combustível para chegar onde estou". O advogado concluiu o curso em 2019 e se dedicou para fazer o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). "Eu vivi muitas coisas na Rodoviária e sei o sofrimento das pessoas que estão lá. Hoje, eu luto pelos direitos dessas pessoas que não possuem condições financeiras. Para isso, sou o porta voz delas", afirma.
O padre Júlio Lancellotti, referência na luta pelos direitos humanos, comentou sobre a conquista social obtida por Walisson: "A mobilidade social é muito restrita. As famílias pobres brasileiras levam cerca de nove gerações para sair dessa condição", diz o padre citando dados da pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), na qual o Brasil ocupa a segunda pior posição em um estudo sobre mobilidade social.
"Precisamos de advogados comprometidos", diz Padre Lancellotti (foto: Victor Angelo Caldin
"Trabalho nessa área jurídica e sei quantas pessoas sofrem injustiças nesse meio, quantas pessoas que foram presas de maneira equivocada e não conseguem pagar alguém para ajudá-las", lamenta o advogado. Ele próprio diz que sente o preconceito contra pessoas que vêm de situação de pobreza extrema. "Sinto que várias pessoas não me olham pela minha capacidade, mas pelo simples fato de eu ser um ex-morador de rua."
Apesar disso, o advogado garante que continuará lutando e provando sua capacidade no meio jurídico. "Estou aqui para ajudar a todos que vivem a situação na qual um dia eu estive". No futuro, seu sonho é se tornar promotor de justiça.
Júlio Lancellotti alerta que histórias como a do advogado Walisson, infelizmente, são raras no Brasil. O religioso defende a criação de políticas públicas para diminuir a desigualdade social que ocorre no país.