A Polícia Federal e a CPI dos Atos Golpistas devem mirar no rastreamento do dinheiro que circulou em torno de Jair Bolsonaro (PL), e seus ajudantes, após novas revelações relacionadas ao caso das joias recebidas pelo ex-presidente. As investigações agora se concentram na análise das movimentações de contas nacionais e internacionais, assim como nos extratos de cartões de crédito.
Uma das metas centrais dessas investigações é mapear a origem dos recursos utilizados pelo Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, para recomprar um relógio Rolex nos Estados Unidos. Essa transação faz parte de um suposto esquema de venda de itens recebidos por Bolsonaro em viagens internacionais.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a solicitação da PF para cooperação internacional, que será enviada ao Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) do Ministério da Justiça ainda nesta semana.
Wassef admitiu ter recomprado o Rolex em março, levando a PF a agora buscar a origem do pagamento. Em colaboração com o FBI, investigadores brasileiros buscam esclarecer a fonte do dinheiro em espécie usado pelo advogado para a compra. Também investigam se é possível rastrear os dólares empregados, se Wassef agiu sozinho na joalheria e se há imagens registrando a transação.
Frederick Wassef, advogado da família Bolsonaro – Foto: JOÉDSON ALVES/EFE
Outros incidentes que envolvem dinheiro em espécie também chamaram a atenção da PF. O general Mauro Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, estava com US$ 25 mil em dinheiro, supostamente pertencentes a Bolsonaro, em janeiro. A PF suspeita que a conta do oficial no exterior tenha sido utilizada para receber dinheiro proveniente das vendas de joias, e investiga se esse esquema tinha como objetivo converter o dinheiro em espécie para o patrimônio pessoal de Bolsonaro.
Na ocasião da recompra de um conjunto de joias em abril, Mauro Cid sacou US$ 35 mil de uma agência do Banco do Brasil nos EUA antes de se dirigir à joalheria.
A PF alega que Cid não apenas acompanhou Bolsonaro em suas atividades diárias durante os quatro anos de seu mandato, mas também administrava suas contas e cartões, sendo responsável, por exemplo, pelo pagamento de contas pessoais da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Nesta semana, os advogados Cezar Bitencourt e Paulo Bueno, representando Mauro Cid e Jair Bolsonaro, respectivamente, fizeram declarações que poderiam mudar os rumos das investigações. Bitencourt declarou que Cid assumirá a negociação do Rolex, responsabilizando Bolsonaro pela iniciativa. Ele afirmou que o dinheiro obtido com a venda do relógio foi entregue a Bolsonaro ou Michelle. Já Paulo Bueno afirmou que Bolsonaro “nunca recebeu valor em espécie de Cid referente à venda de qualquer coisa”.
Além disso, as investigações incluem análise dos resultados da quebra de sigilo fiscal e bancário de Bolsonaro e Michelle, ordenada por Moraes. Assim, as informações financeiras do casal serão minuciosamente examinadas pelos investigadores.